O retomo do PR ao governo Dilma e os afagos ao PDT foram articulados pelo ex-presidente Lula. A estratégia é evitar que as siglas se aproximem do governador Eduardo Campos (PSB- PE), possível candidato à disputa presidencial de 2014.
Dilma segue Lula e refaz diálogo com partidos rebeldes
João Domingos
BRASÍLIA - Ao buscar uma recomposição com o PR e o PDT, partidos com os quais teve a relação institucional abalada após mudar comandos de ministérios alvos de corrupção, a presidente Dilma Rousseff segue a agenda e as orientações do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Lula articula a manutenção das duas siglas na base de sustentação de Dilma com o objetivo de garantir a vitória do PT em 2014 sem percalços. Ontem a presidente recebeu no Palácio do Planalto o presidente nacional do PDT e ex-ministro Carlos Lupi.
O encontro ocorreu um dia após Dilma receber, também no Planalto, o presidente nacional do PR, o ex-ministro Alfredo Nascimento. Partiu de Lula a sugestão para que Dilma recebesse os dois. Na avaliação do ex-presidente, ambos estariam "chateados" e mereciam um gesto de "carinho" da presidente. Nascimento e Lupi deixaram, respectivamente, os ministérios dos Transportes e do Trabalho, em 2011, após denúncias de corrupção nas pastas.
Lula ponderou que o PR e o PDT são aliados do tucano Aécio Neves em Minas Gerais. Aécio já foi lançado como pré-candidato a presidente durante encontro do PSDB. Há uma pressão para que assuma a presidência do partido. O atual presidente, deputado Sérgio Guerra (PE), cobra quase todos os dias que o senador mineiro assuma sua condição de pré-candidato. O petista teme também que as duas siglas também se aproximem do PSB, comandado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, outro com pretensões de disputar a Presidência.
Juntos, os dois partidos têm60 deputados e 10 senadores, número de votos nada desprezível numa base que, embora gigantesca, não tem coesão.
Ao receber pessoalmente dirigentes partidários contrariados, Dilma está assumindo também o papel de articuladora política de seu governo, uma função à qual não costuma se dedicar, ao contrário do antecessor. Mas a eleição dos peemedebistas Renan Calheiros (AL) e Henrique Alves (RN) para as presidências do Senado e da Câmara, respectivamente, a obrigou a isso, dizem auxiliares próximos.
Como os dois são tidos como "raposas políticas", conselheiros da presidente concluíram que o melhor é ela mesma assumir as negociações com os partidos da base, abrindo diálogo direto com presidentes das siglas.
Desde que manteve encontros com Lula em São Paulo, no início do ano, Dilma tem assumido uma postura política mais ativa, tanto nos bastidores quanto nos eventos oficiais.
Tempo. A reunião com o senador Nascimento (AM), anteontem, deveria durar meia hora, mas se estendeu por duas horas e meia. Nascimento levou junto com ele o líder do PR na Câmara dos Deputados, Anthony Garotinho (RJ), e o vice-líder do partido no Senado, Antonio Carlos Rodrigues (SP), que é suplente da ministra da Cultura, a petista Marta Suplicy.
Desde que Dilma tirou Nascimento e Lupi, os dois partidos sentiram-se descompromissados com as orientações do Palácio do Planalto. A nomeação do deputado Brizola Neto, também do PDT, para o Ministério do Trabalho, não resolveu a polêmica.
Ao PR, Dilma prometeu que devolverá ao partido um lugar importante na Esplanada - Nascimento ocupava o Ministério dos Transportes. Ao que tudo indica, o partido poderá ocupar o Ministério da Agricultura ou, de novo, o dos Transportes.
Na internet. Garotinho publicou em seu blog, na internet, a versão do que ocorreu na reunião com a presidente. Disse que todo mundo estava muito bem-humorado. Que relembrou os tempos em que foi do PDT, junto com a presidente, e até da reunião realizada em Porto Alegre, quando uma dissidência, da qual Dilma participou, deixou o partido de Leonel Brizola.
Garotinho contou que Antonio Carlos Rodrigues falou do momento de união que o PR está vivendo e lembrou que as bancadas na Câmara e no Senado vão trabalhar afinadas com a direção partidária para no ano que vem o PR chegar à eleição sem divisões.
Garotinho fez ainda uma inconfidência envolvendo a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Quando Nascimento propôs falar de assuntos partidários, Ideli disse, segundo o deputado fluminense: "Calma Alfredo. Eles ainda estão na sessão remember".
Conselho. Por fim, Garotinho disse que Dilma perguntou por Rosinha (a ex-govemadora do Rio e mulher do deputado) e pelas crianças. "E até me recomendou ler o livro Getúlio (do jornalista Lira Neto) : "Garotinho você precisa ler!"."
Fonte: O Estado de S. Paulo
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