Mudanças no ministério, nas democracias, são mesmo "inevitáveis", como disse ontem a presidente Dilma Rousseff, mas a reforma ministerial em curso não derivou apenas do determinismo eleitoral, como ela sugeriu, embora boa parte dos ministros que saem sejam candidatos a cargos eletivos. Com as mudanças, Dilma se arma para a batalha da reeleição e também para enfrentar os novos desafios de seu governo, na gestão e na economia.
A segunda etapa da reforma, sim, será diretamente relacionada com o projeto reeleitoral, buscando consolidar as alianças partidárias que lhe garantirão tempo de tevê, máquinas e palanques. Já as posses de ontem se relacionam com os desafios e as novas necessidades de Dilma. Não por acaso, no discurso de posse, ela disse ter honrado os compromissos de 2010, como os de manter os fundamentos macroeconômicos e as políticas sociais. Ela beijou a cruz em Davos, mas as incertezas econômicas continuam visitando os países emergentes. O ajuste, mais cedo ou mais tarde, terá que ser feito, podendo sacrificar consumo e bem-estar para garantir estabilidade. Para não ter que fazer isso em 2014, Dilma precisa de um governo mais enérgico, mais determinado e eficiente.
A presença de Aloizio Mercadante na Casa Civil deve imprimir nova dinâmica ao governo. A oposição criticou o espírito eleitoral da reforma, mas muitos de seus líderes elogiaram a escolha, por sua vivência parlamentar e experiência de governo. Dilma, palmeira no gramado, contará com um homem forte na paisagem, seja na coordenação interna do governo, seja no relacionamento com o Congresso, a sociedade, o empresariado, as forças sociais em geral. A mensagem dela, por ele levada ao Congresso, toca num dos desafios: conter o gasto público, que o Congresso é sempre tentado a expandir em safras eleitorais. Será preciso enfrentar o touro com energia. Ele gosta do poder, sabe exercê-lo, na negociação e no confronto. Sua personalidade e certo olhar para o alto podem gerar colisões. Mas é pacífico, não só no PT. Entre os quadros disponíveis, Dilma fez a melhor escolha.
Alexandre Padilha saiu para ser candidato, mas, por que agora? Para que seu substituto, o também petista e paulista Arthur Chioro, possa dominar logo a máquina que tem programas de grande apelo eleitoral, especialmente o Mais Médicos. E, no Ministério da Educação, também estratégico, a efetivação de Henrique Paim, já aprovado como secretário executivo, foi a opção por não correr riscos.
A mudança na Secom é que tem propiciado interpretações mais equivocadas. A troca não teve nada a ver com a escala em Lisboa e muito menos com uma suposta opção por uma relação truculenta com a imprensa, na base do bateu, levou. Dilma teria que ser estúpida para fazer agora tal inflexão. A troca foi imposta pela debilidade do governo na área, por sua incapacidade de estabelecer o contraditório. De demonstrar, por exemplo, que os gastos com estádios são inferiores aos realizados com mobilidade e outras obras que serão "legado". Em relação a outros temas, o governo tem sido igualmente tímido e tíbio, tenha ou não bons argumentos para apresentar.
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, contribuiu para ampliar a algaravia em torno da troca na Secom, ressuscitando o tema da regulação da mídia, também alheio à mudança. O projeto do ex-ministro Franklin Martins, que Bernardo engavetou, nunca tratou de regular conteúdo, mas o "espectro" do controle voltará a ser brandido. Ele tocava em outras questões essenciais, como a propriedade cruzada de veículos, a falta de conteúdos regionais e o direito de resposta. Bernardo apontou o Google como "o grande monopólio" e defendeu a regulação da publicidade na internet, que vitima os veículos tradicionais. Embora sejam questões pertinentes, Dilma não deve estar interessada em debatê-las agora. Aliás, ela nunca se interessou por elas, nem por comunicação pública e assuntos conexos. Mas é legítimo que ela queira uma Secom mais disposta ao debate e ao contraditório, desde que observada uma relação respeitosa com a imprensa, como ela disse, a "liberdade e a pluralidade essenciais" na democracia. É o que a trajetória profissional de Thomas Traumann sugere que esperemos dele.
Novo líder
A bancada do PT deu posse ontem a seu novo líder, o deputado Vicentinho, observando o velho sistema de rodízio. Outros partidos farão agora a troca da guarda nas lideranças.
Novo alvo
A preocupação de Dilma ontem, depois da posse dos ministros, era com a busca de um substituto para Fernando Pimentel na pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Ele deixará o cargo na semana que vem para mergulhar na campanha para o governo de Minas Gerais. Com a opção de Josué Alencar pelo sacrifício, ou seja, por disputar o Senado com o governador Anastasia, considerado imbatível, Dilma busca um nome que dialogue especialmente com a Indústria. Robson Andrade, da CNI, era cogitado.
Fonte: Correio Braziliense
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