Murillo Camarotto
RECIFE - Nas duas últimas vezes em que visitou o Recife, o senador tucano e pré-candidato à Presidência, Aécio Neves, foi taxativo: "Espero que, futuramente, eu possa construir um projeto nacional ao lado do governador Eduardo Campos". Em ambas as ocasiões, entretanto, os afagos não foram retribuídos à altura pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que se limitou a responder: "Eu e o senador Aécio não estamos no mesmo palanque nacional desde a campanha das Diretas, em 1984".
A diferença de tom nas declarações de um e outro tem razão de ser. Apesar do pacto de não agressão firmado com Aécio há cerca de seis meses, não está no radar de Campos uma aliança formal caso o tucano avance ao segundo turno da eleição presidencial contra a atual ocupante do Palácio do Planalto, Dilma Rousseff.
Primeiro, porque o pernambucano não crê na hipótese de ficar fora da disputa. Suas projeções apontam que receberá entre 30% e 35% dos votos, desempenho com o qual superaria Aécio com distância confortável. Caso seja vencido pelo tucano, todavia, Campos vai levar em conta a tradição esquerdista da trajetória política de sua família e tenderá à neutralidade no segundo turno, a exemplo do que fez em 2010 sua companheira de chapa, a ex-senadora Marina Silva (PSB).
No alto escalão do PSB, a avaliação é de que os setores da sociedade representados hoje pelos tucanos têm pouco a oferecer ao processo de modernização do país. Ao candidato tucano, em si, também sobram ressalvas, apesar de Campos ter boa relação pessoal com Aécio. O PSB não enxerga no senador mineiro o líder capaz de aglutinar forças políticas, dar maior eficiência à economia, manter a inclusão social e tirar do papel a agenda da sustentabilidade.
Além disso, o PSB dá como certa a migração, para Campos, da maioria esmagadora dos votos que forem destinados a Aécio no primeiro turno. A situação inversa, porém, não é a mesma. Avalia-se no PSB que os votos dados ao governador de Pernambuco tendem a se dividir entre PT e PSDB num eventual segundo turno entre Dilma e Aécio.
A provável neutralidade que o PSB vai adotar caso fique fora do segundo turno não surpreenderá os tucanos mais experientes, caso do ex-presidente nacional do PSDB e deputado Sérgio Guerra, que hoje comanda o partido em Pernambuco e é um interlocutor privilegiado de Campos.
Neste ano, os dois acertaram o ingresso do PSDB à base de apoio do PSB em Pernambuco. Em troca, Campos se comprometeu a não lançar candidato próprio de seu partido em Minas Gerais, território de Aécio. "Um não mexe no quintal do outro", tem dito Guerra.
Além dos respectivos quintais, tucanos e pessebistas negociam outras alianças estaduais. Somente na região Nordeste, área de maior influência de Campos, há conversas adiantadas na Paraíba, no Piauí e no Ceará. Também estão apalavrados acordos no Paraná, no Acre e em Roraima.
Em São Paulo, Campos caminhava para aceitar um pacto pragmático com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), mas a chegada de Marina jogou terra nas negociações. A despeito da ameaça de Marina de ficar fora da chapa presidencial caso o namoro com o tucano fosse adiante, Campos foi convencido de que a associação com o PSDB no maior colégio eleitoral poderia manchar a aura de "nova política" que quer vender ao eleitorado.
Logo que chegou à casa de Campos para um jantar, em agosto do ano passado, Aécio encontrou os fotógrafos do governador a postos para registrar o encontro. A imagem dos dois, sorridentes, serviu para azedar de vez a relação de Campos com o Palácio do Planalto. Menos de 20 dias depois, o pernambucano anunciou o desembarque de seu partido da base governista.
Fonte: Valor Econômico
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