domingo, 20 de abril de 2014

Diretas Já: Há 30 anos, milhões foram às ruas reivindicar o direito de votar

Especialistas citam legado do movimento e amadurecimento da democracia

Raphael Kapa – O Globo

Na próxima sexta-feira, dia 25, a votação que simbolizou — e frustou — o movimento das Diretas Já completará 30 anos. A maior manifestação popular na História brasileira até então reivindicou a volta das eleições diretas para presidente da República, após 20 anos de regime militar. A emenda Dante de Oliveira, nome do deputado que a criou, no entanto, não foi aprovada.

Em outubro, o país voltará às urnas para eleger seu presidente, pela sétima vez desde a redemocratização. Nesse período, a espontaneidade da militância política e partidária dos tempos das Diretas e das primeiras eleições após o fim ditadura foi perdendo fôlego, dando lugar a campanhas cada vez mais profissionais, com militantes pagos. Especialistas ouvidos pelo GLOBO discutem erros e acertos do movimento, mas lembram que a democracia brasileira ainda está em construção.

Para o cientista político Vanderlei Elias Nery, especialista em “Diretas Já”, houve uma avaliação equivocada no movimento que refletiu na formação da democracia no país.

— O PMDB, partido que articulou a campanha, apostou todas as fichas, canalizou os variados sentimentos da população, o mal-estar das péssimas condições de vida para a aprovação da emenda, como se ela resolvesse tudo. Na hora que não foi aprovada (a emenda), não se tinha um plano B, não tinha uma outra estratégia — afirma Vanderlei, que considera que isso trouxe prejuízo nos anos seguintes: — A única coisa que o movimento das Diretas teve de positivo foi tirar dos militares a questão da sucessão. Eles tiveram que negociar com a oposição, mas a volta da democracia não foi plena. Existem questões nos últimos 30 anos que surgiram naquele momento e ainda estão em construção. A democracia é algo que se vê em constante construção.

O cientista político Fabiano Santos, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp), enaltece o movimento e diz que a democracia não se enfraqueceu desde então.

— Foi uma conquista. Um direito alcançado, consolidado. Outras insatisfações surgem e não acho que há um amortecimento no impulso participatório. Naquele momento tinha um tópico que as pessoas queriam recuperar: a capacidade de retomar a democracia. Hoje, existem outras demandas — analisa Fabiano, que vê a democracia brasileira no mesmo patamar que outras mais antigas. — O Brasil sofre dos mesmos males das democracias consolidadas há mais tempo. As queixas de distanciamento dos partidos, do excesso de profissionalização, são comuns em uma democracia de massa que tem que se organizar em máquina.

Para a cantora Fafá de Belém, conhecida como “Musa das Diretas” por ter participado de diversos comícios, a atual juventude cobra o que foi prometido há três décadas atrás.

— As manifestações do ano passado mostram que a juventude está cobrando o recibo do que prometemos quando fomos às ruas há 30 anos. É necessário oxigenar a política e consolidar a democracia.

Quarenta e um comícios aconteceram em todas as regiões do país. No Rio, os organizadores do movimento calcularam que um milhão de pessoas participaram do comício da Candelária no dia 10 de abril. Seis dias depois, São Paulo reuniria 1,5 milhão de pessoas em uma passeata que começou na Praça da Sé e foi até o Vale do Anhangabaú. No dia 25, foram montadas vigílias para acompanhar a votação. Mas toda a mobilização acabou em frustração. Apesar de 298 deputados terem votado a favor, faltaram 22 para que a emenda fosse aprovada.

— Após a derrota, a sensação era de luto — conta Fafá.

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