Já oposição quer levar ex-presidente da estatal para depor na Câmara
Dilma ‘não pode fugir à responsabilidade’ por compra de Pasadena, disse executivo; para Aécio e Campos, cresce a necessidade de investigação
Em uma tentativa de conter a crise que pode levar à criação de CPI para investigar a Petrobras, o Planalto decidiu evitar o confronto com o ex-presidente da estatal José Sergio Gabrielli, que afirmou que a presidente
Dilma “não pode fugir da responsabilidade” na compra de Pasadena. A oposição diz que a declaração reforça a necessidade de CPI e tentará levar Gabrielli para depor na Câmara. “O desencontro de versões mostra cada vez mais a necessidade de que a verdade seja dita ao povo”, disse Eduardo Campos (PSB).
Oposição quer ouvir Gabrielli
Planalto evita confronto com ex-presidente da estatal, que dividiu com Dilma ônus pela compra de Pasadena
Júnia Gama – O Globo
BRASÍLIA- Após o ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli afirmar, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, que a presidente Dilma Rousseff “não pode fugir da responsabilidade dela” na compra da refinaria de Pasadena, nos EUA — já que era a presidente do Conselho de Administração na época —, o Palácio do Planalto preferiu evitar o confronto e não se manifestar oficialmente, numa tentativa de conter a crise que pode levar à criação de uma CPI exclusivamente para investigar a Petrobras.
A oposição, no entanto, pretende manter o assunto aceso e tentará levar Gabrielli à Câmara dos Deputados para prestar depoimento, além de insistir na instalação da CPI, que ainda aguarda um parecer do Supremo Tribunal Federal (STF). Amanhã, representantes do partido Solidariedade vão apresentar convite ao ex-presidente da Petrobras para depor na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara.
Os principais adversários de Dilma nas próximas eleições, o senador Aécio Neves (PSDBMG) e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), voltaram a defender ontem investigações sobre a compra de Pasadena e uma prestação de contas do governo sobre o caso. Aécio disse que Gabrielli reforçou a necessidade de uma CPI. Campos cobrou que Dilma Rousseff “assuma suas responsabilidades” não somente sobre a Petrobras, mas em diversos setores da economia e da administração.
O Palácio do Planalto optou por não se manifestar oficialmente sobre os comentários de Gabrielli. A versão divulgada pelo governo é que as declarações são uma defesa da aquisição de Pasadena, e que Gabrielli tem o direito de defender sua gestão à frente da Petrobras. Segundo assessores, as colocações de Gabrielli não foram vistas como um ataque a Dilma e, por isso, não mereceriam uma reação do Planalto.
Para planalto, depoimentos sem contradição
O posicionamento de ontem do Planalto segue a estratégia de colocar panos quentes na crise. Desde o início da semana passada, o governo vem minimizando os desencontros nas declarações sobre o caso. Após a presidente da Petrobras, Graça Foster, e o ex diretor da empresa Nestor Cerveró irem ao Congresso e apresentarem avaliações diferentes sobre a compra de Pasadena, o governo alardeou a versão de que os depoimentos não haviam sido contraditórios no essencial: na defesa de que o negócio parecia rentável na época em que foi fechado, e que ambos disseram que Dilma não sabia das cláusulas que depois teriam tornado o negócio ruim.
Na entrevista a “O Estado de S. Paulo”, Gabrielli contestou outra declaração de Dilma ao afirmando que o resumo executivo sobre a negociação de Pasadena entregue ao conselho presidido em 2006 por ela foi “omisso”, mas não foi “falho”, como classificou a presidente. O ex-presidente da Petrobras também contestou a versão apresentada por Dilma de que, se fossem conhecidas as cláusulas “put option” (que obriga o sócio a comprar a parte do outro em caso de discordância na sociedade) e “Marlim” (que assegura ao sócio uma rentabilidade mínima), a compra não teria sido aprovada. “Isso (a omissão das cláusulas) não é relevante, a meu ver, para a decisão do conselho”, disse o ex-presidente. Gabrielli sustenta que Pasadena só se tornou um mau negócio posteriormente, devido à conjuntura internacional. Dilma alega que foi induzida a erro na compra da refinaria de Pasadena por ter recebido um parecer “técnico e juridicamente falho”.
A ordem no Palácio do Planalto é não contestar as versões de Gabrielli e do ex-diretor da área internacional da empresa Nestor Cerveró.
Já para Aécio Neves, a entrevista de Gabrielli tornou ainda mais necessária uma CPI, para que se descubra qual a responsabilidade de cada um na compra da refinaria de Pasadena.
“A entrevista do ex-presidente da Petrobras reforça a necessidade de uma CPI. O objetivo dela é exatamente determinar, sem qualquer prejulgamento, qual é a responsabilidade de cada um nesse caso da refinaria de Pasadena e em outros episódios envolvendo a Petrobras. A CPI não é uma demanda das oposições, como querem fazer crer alguns governistas, mas, sim, da sociedade brasileira”, disse Aécio, em nota.
Eduardo Campos afirmou que “o desencontro entre as versões que vêm de dentro do governo mostra cada vez mais a necessidade de que tudo seja investigado e que a verdade seja dita ao povo brasileiro”.
“Sobre assumir as suas responsabilidades, a presidente tem que assumi-las não apenas em relação à Petrobras, mas ao setor elétrico, à inflação e ao baixo crescimento da economia, porque, em última instância, ela é responsável por tudo isso”, disse Campos, também em nota.
O líder do Solidariedade, deputado Fernando Francischini (SDD-PR), foi outro que apontou contradições nas declarações prestadas até o momento sobre Pasadena. Para ele, o governo construiu um discurso no sentido de se eximir de responsabilidades e culpar Gabrielli e Cerveró sobre a polêmica aquisição.
— Todo o discurso preparado por Dilma e Graça Foster é para se eximir de responsabilidades. A Petrobras errou demais, e a presidente Dilma, para se livrar dessa barbeiragem com o dinheiro público, empurrou a culpa para o Gabrielli, por isso ele reagiu. Gabrielli sentiu que vai sobrar para ele e para o Cerveró, porque Dilma fez um discurso político de responsabilizá-los. Vamos fazer o convite ao Gabrielli para ele vir à Câmara, porque ele já avançou e começou a revelar detalhes que não tinha falado antes — afirmou Francischini.
“Forma sorrateira de criar uma crise”
Líderes do PT, porém, saíram em defesa do governo Dilma e seguiram a linha do Palácio do Planalto de minimizar as declarações de Gabrielli. O vice- presidente nacional do partido, deputado José Guimarães (CE), afirmou que tanto Gabrielli quanto Graça estão defendendo suas gestões e disse que é preciso colocar um ponto final na crise.
— É dever dele (Gabrielli) defender sua gestão, seu período à frente da empresa. Graça Foster não tem responsabilidade sobre o passado e também está defendendo a gestão dela. Essa é uma contenda que tem que ser encerrada. Não acho que se deve gerar uma crise porque há uma divergência entre um ex-presidente da empresa (Gabrielli) e uma ex-presidente de Conselho de Administração (Dilma). Isso é uma forma sorrateira de criar uma crise.
Para mim é uma coisa resolvida: ele defende a gestão dele e a Graça Foster, a dela. Tem que encerrar isso e tocar o governo — defendeu Guimarães. O deputado Fernando Ferro (PT-PE), um dos principais articuladores da defesa do governo na audiência que ouviu Cerveró semana passada, avalia que os conselheiros têm, sim, responsabilidades
por suas decisões, mas só a partir das informações que lhes são entregues, o que não ocorreu por completo com Pasadena. Para ele, o assunto vem sendo “requentado” desde 2009 e não merece o destaque que a oposição quer dar:
— Um negócio feito de maneira inadequada traz prejuízo para qualquer empresa, mas, se houve incompetência, está muito distante de se transformar isso em um grande escândalo de corrupção, como a oposição quer fazer crer. l
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