Pouco representantivos nas pesquisas de intenção de votos, candidatos sem expressão nacional são uma das esperanças da oposição para levar a eleição ao segundo turno. Somados, eles podem chegar a 5%
João Valadares – Correio Braziliense
Individualmente, eles não têm nenhuma expressão eleitoral. Nas pesquisas de intenção de voto são geralmente representados por um traço ou baixíssimos índices percentuais. Juntos, podem ser responsáveis por levar a eleição presidencial ao segundo turno. Nas eleições deste ano, as chamadas candidaturas nanicas já são representadas por pelo menos oito nomes. É um dos maiores números desde o pleito de 1989, a primeira eleição direta para presidente após a redemocratização, quando 15 nanicos entre os 22 candidatos tentaram chegar ao Palácio do Planalto, a exemplo do folclórico Enéas Carneiro, falecido em 2007.
Naquele ano, a soma dos percentuais de todos eles chegou a 5,5%. De acordo com as pesquisas de intenção de voto divulgadas até o momento, os nanicos de 2014 estão no mesmo patamar. Os índices somados variam entre 4% e 5%. Os principais adversários da presidente Dilma Rousseff, o mineiro Aécio Neves (PSDB) e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), apostam no crescimento do pré-candidato do PSol, o senador Randolfe Rodrigues (AP), para chegarem ao segundo turno.
O senador mais jovem da atual legislatura, o pernambucano que mora no Amapá desde os oito anos, faz uma oposição dura ao governo da presidente Dilma Rousseff. Conhecido por seus discursos duros na tribuna do Senado, tabela com políticos ditos conservadores para atingir o seu principal alvo: o Partido dos Trabalhadores. Com atuação destacada na chamada CPI do Cachoeira, Randolfe foi um dos principais defensores da ampliação da investigação dos negócios da empreiteira Delta por todas as regiões do Brasil, o que deixaria os aliados do governo da presidente Dilma Rousseff em situação desconfortável. Fracassou.
O principal objetivo do PSol nesta eleição é tentar chegar perto do desempenho alcançado em 2006 pela candidata Heloísa Helena. Com uma coligação apoiada pelo PSTU e PCB, ela ficou na terceira colocação com 6,85 % dos votos. De acordo com a última pesquisa do Ibope, Randolfe aparece com apenas 1%. Sua campanha será voltada para os jovens e vai tentar surfar na onda das manifestações que sacudiram os país em junho do ano passado. Nas passeatas, era comum observar a presença de bandeiras do partido.
Quem lidera o grupo dos nanicos até agora é o pastor Everaldo, do Partido Social Cristão (PSC), que fazia parte da base de apoio do governo Dilma. Representante da Igreja Assembleia de Deus, chegou a aparecer em uma das pesquisas com 3% das intenções de voto logo que seu nome foi lançado. No levantamento mais recente, divulgado semana passada pelo Ibope, ficou com 2%. O partido aproveitou, no ano passado, os holofotes gerados a partir da polêmica em volta da escolha do deputado Marco Feliciano para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara para lançar a pré-candidatura. O religioso alimenta um blog onde defende a família brasileira e o que chama de valores cristãos. Luta pela redução da maioridade penal, desestatização de empresas públicas e voto facultativo.
As eleições deste ano também vão apresentar os folclóricos nanicos de sempre: Zé Maria (PSTU), Levy Fidélix (PRTB) e José Maria Eymael (PSDC). Todos ainda não conseguiram sair do traço nas pesquisas. Eymael, presidente nacional do PSDC, é mais conhecido pelo jingle do “democrata cristão” do que pela sua plataforma eleitoral. Candidato em 1998, 2006 e 2010, promete fazer diferente este ano e ser “a verdadeira alternativa de mudança para o Brasil”.
Zé Maria é o metalúrgico e ex-petista que acaba seus discursos com o chavão “contra burguês, vote 16”. Também é candidato pela quarta vez. Defende um governo com princípios radicais de esquerda. Já Levy Fidélix é o Zé Maria da direita. O bigodudo, que tentou chegar ao Palácio do Planalto nas eleições de 2010, diz que é único representante da direita brasileira. Repete que promete “endireitar” o país se vencer as eleições. O candidato esbanja otimismo. “Fazemos por merecer muito mais do que as pesquisas têm mostrado. Temos seis meses pela frente, tenho chances reais de ser eleito”, acredita.
“Militância”
A única mulher que vai enfrentar a presidente Dilma nas urnas é a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação (Anac) e ex-procuradora do estado de São Paulo Denise Abreu. Ela foi escolhida para disputar a presidência pelo PEN, partido criado em 2012. Aos 52 anos, diz em entrevista no site da legenda porque resolveu se candidatar. “Ninguém é candidato de si mesmo. Minha pré-candidatura surgiu a partir de reuniões com o PEN em que a militância avaliando os nomes entendeu que eu estou preparada e tenho o perfil e a estatura apropriadas por causa do conhecimento jurídico para fazer o que é certo”.
O Partido Verde, que teve a ex-ministra Marina Silva como candidata nas eleições de 2010 com surpreendentes 20 milhões de votos, recorreu neste ano a um ilustre desconhecido. Trata-se do médico sanitarista Eduardo Jorge. Durante lançamento da pré-candidatura, ele divulgou o documento “Viver bem. Viver verde” com 10 pontos considerados primordiais para o desenvolvimento sustentável do Brasil. Enquanto a campanha não começa, Eduardo Jorge continua dando plantão na Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo. Vai todos os dias de bicicleta ao trabalho. Quando está chovendo, pega um ônibus.
Mauro Iasi é o nanico do PCB. Nos seus discursos, repete que há uma falsa polarização no debate eleitoral brasileiro. Para ele, os políticos e partidos protagonistas no país são burgueses e vivem de falsas divergências.
5,5% - Percentual de votos conquistados por candidatos nanicos em 2010
Os oito
Randolfe Rodrigues (PSol)
O ex-petista de 42 anos é o senador mais jovem da atual legislatura. Em 2010, foi o mais votado do Amapá com 203 mil votos. No Congresso, faz oposição à gestão da presidente Dilma Rousseff. Em 2012, teve atuação de destaque na chamada CPI do Cachoeira. No início do ano, travou uma disputa interna acirrada com a ex-deputada Luciana Genro (RS) para encabeçar a chapa do PSOL na eleição presidencial deste ano.
Pastor Everaldo (PSC)
Um dos mais populares pastores da Assembleia de Deus, teve o nome escolhido ainda no ano passado logo após a polêmica escolha do deputado Marco Feliciano para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Entre os nanicos, é o que aparece com melhor índice nas pesquisas de intenção de voto. Chegou a ter 3%. Conversador, o pastor de 56 anos apresenta-se como o defensor da família e dos valores cristãos.
Denise Abreu (PEN)
Ex-diretora da Agência Nacional de Aviação (Anac) e ex-procuradora do estado de São Paulo, a escolhida para disputar a presidência da República pela sigla criada em 2012 não era consenso no partido, mas conseguiu se viabilizar. Denise Abreu é uma dos três réus no processo que apura as responsabilidades do acidente com o avião da TAM em 2007.
José Maria Eymael (PSDC)
Velho conhecido das disputas presidenciais, o democrata cristão entra na disputa novamente. Candidato em 1998, 2006 e 2010 é conhecido por ter um dos jingles mais “chicletes” das campanhas eleitorais. Em 2010, Eymael obteve 89.350 votos.
Zé Maria (PSTU)
O metalúrgico, ex-petista, vai encabeçar a chapa presidencial da sigla pela quarta vez. Com o slogan “contra burguês, vote 16”, ele esperava contar com o apoio do Psol e do PCB. Não foi possível. No lançamento da candidatura, Zé Maria ressaltou que representa uma oposição à esquerda do governo petista.
Mauro Iasi (PCB)
A pré-candidatura foi lançada no ano passado. Defende posições alinhadas com o que chama de princípios da verdadeira esquerda brasileira. Iasi afirma que o debate eleitoral no Brasil é “um teatro de mau gosto em que predominam falsas divergências entre políticos e partidos burgueses”.
Levy Fidélix (PRTB)
Conhecido pelo vasto bigode, costuma repetir que é o único candidato verdadeiramente de direita das eleições. Em 2010, também tentou chegar ao Palácio do Planalto. Em seu currículo estão candidaturas ao governo de São Paulo e à prefeitura da capital paulista.
Eduardo Jorge (PV)
Enquanto a campanha presidencial não começa, o médico sanitarista continua trabalhando na Secretaria de Saúde de São Paulo, onde cumpre expediente das 8h às 17h. Vai ao trabalho de bicicleta ou de ônibus. Na eleição presidencial de 2010, a candidata do PV, Marina Silva, teve 20 milhões de votos. Eduardo Jorge sabe que este ano será bem diferente.
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