• Para especialistas, nova classe média teme riscos; tucano atrai desiludidos
Silvia Amorim e Germano Oliveira – O Globo
SÃO PAULO - A reação da presidente Dilma Rousseff registrada pela pesquisa Ibope foi alavancada principalmente pelas intenções de voto de um eleitorado que está longe de ser o tradicional do PT. Foi no grupo dos eleitores mais ricos — o que na metologia usada pelo Ibope inclui majoritariamente a classe média brasileira — que Dilma teve seu maior crescimento no último mês.
Em sentido oposto seguiu o pré-candidato do PSDB, Aécio Neves. A melhor performance dele, em comparação ao levantamento de abril, deu-se junto aos eleitores que estão entre os mais pobres — aqueles com renda entre um e dois salários mínimos. Eduardo Campos (PSB) registrou o mesmo ritmo de crescimento nos dois grupos.
O aumento de intenções de voto de Dilma entre os mais ricos e de Aécio entre os mais pobres já havia aparecido na sondagem do Datafolha no início do mês. A pesquisa Ibope vem confirmar essa tendência que, para especialistas ouvidos pelo GLOBO, é curiosa e precisa ser acompanhada de perto nos próximos levantamentos para ter suas causas entendidas.
Segundo o Ibope, Dilma cresceu 12 pontos percentuais entre os eleitores com renda acima de cinco salários mínimos, passando de 26% em abril para 38% em maio. Com a escalada, ela superou Aécio. No mês passado, os dois estavam empatados nesse segmento. O tucano oscilou um ponto para baixo e tem hoje a simpatia de 25% dos eleitores.
O maior crescimento de Aécio, de sete pontos, aconteceu entre os entrevistados mais pobres, historicamente ligados ao PT. Ele saltou de 10% das intenções de voto para 17%.
Algumas hipóteses foram levantadas para o fenômeno. Para a professora de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Maria do Socorro Sousa Braga, a melhora de Dilma entre os que ganham mais pode ter relação com a nova classe média.
— Esse é o conjunto do eleitorado mais preocupado com a ameaça de retrocesso. Esse é o eleitor mais suscetível ao discurso do medo que o PT levou a TV nos últimos dias — afirmou.
Programa de TV funcionou
Para o professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em marketing político Paulo José Cunha, o avanço de Dilma pode ser explicado também pelo perfil conservador desse eleitorado.
— É um eleitor que até quer mudanças, mas não quer correr riscos.
Já o crescimento de Aécio entre os mais pobres, para Cunha, indica que o tucano “estaria conseguindo conquistar, com o discurso sobre corrupção, os decepcionados com o governo, embora beneficiários de programas sociais”.
Apesar dessas movimentações, Dilma continua tendo no eleitorado mais pobre seu maior capital eleitoral, com apoio de mais de 40% dos entrevistados, enquanto Aécio tem maior adesão entre os mais ricos.
Cientista Político, Rubens Figueiredo atribuiu o crescimento geral de Dilma na pesquisa ao programa exibido pelo PT na semana passada.
— Não fosse a propaganda do PT, que foi impactante, Dilma teria dificuldades para se recuperar.
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