Entre fevereiro e março, o ex-presidente Lula, num encontro com empresários, admitiu o lançamento de nova versão da “Carta aos Brasileiros”, usada em sua campanha de 2002 como arma para desarmar fortes resistências dos agentes econômicos e de grande parte da sociedade a um governo que levas-se à prática as teses e propostas do PT. Como se recorda, centrada no compromisso de respeito às regras do mercado e à estabilidade macroeconômica, a Carta – preparada pelo coordenador da campanha, Antonio Palocci – quebrou boa parcela daquelas resistências e foi bem eficiente na montagem da aliança político-partidária e para o financiamento eleitoral. Ela seria retomada, agora, ou para o objetivo de todos ou de parte dos empresários do encontro de troca da candidatura de Dilma pela de Lula, ou, como ele desejava e segue desejando, para a reversão do desgaste da sucessora, por meio de uma poda no seu intervencionismo nos negócios privados, bem como na centralização excessiva das decisões governamentais, e de ampla mudança no relacionamento autoritário do Executivo com a chamada base aliada e com o Congresso. Tudo isso, na expectativa dele, contribuindo para melhoria da imagem e das relações políticas e empresariais da presidente e para viabilizar a reeleição.
De lá para cá, porém, uma progressiva piora dos indicadores da economia e uma sucessão de fatos e eventos muito negativos para o governo, e também para o PT, terminaram forçando Lula a arquivar a ideia de nova versão da referida Carta. E a acolher recomendação dos marqueteiros (do Planalto e do seu partido) para o desencadeamento de uma campanha baseada na contraposição entre ricos e pobres, entre “nós” (defensores dos programas sociais) e “eles” (que querem acabar com tais programas). Que foi a tônica do pronunciamento da presidente, a rigor de candidata, em cadeia de rádio e televisão, na véspera do Dia do Trabalho. E dos discursos dela e de Lula no encontro nacional do PT, dois dias depois. Quanto à inflação e ao PIB, está tudo bem. Quanto à Petrobras, “eles” querem destruir a principal empresa do país. E quanto a reformas, a reiteração do projeto petista de plebiscito, enquanto “eles querem mudanças econômicas contra os trabalhadores”.
As diversas pesquisas eleitorais do final de abril explicam a guinada tática chancelada pelo ex-presidente. O desempenho da economia (mais inflação, pibinho ainda menor à frente, crescimento do déficit da balança comercial, os atrasos crônicos dos programas de obras e serviços públicos, mais deterioração das contas da União) justificam o aumento do pessimismo do conjunto do mercado em relação ao governo. As seguidas quedas de avaliação da presidente e da candidata, em todas as camadas da população, resultaram da combinação desses fatores com o impacto das graves denúncias de “malfeitos” e prejuízos bilionários da Petrobras e de crescente percepção do eleitorado a respeito do grande e abusivo papel do aparelhamento partidário nos vários órgãos da máquina federal. E a erosão da popularidade do governo teve um desdobramento tão ou mais preocupante para Lula: um forte declínio do ín-dice, histórico, de preferência eleitoral pelo PT. O que se manifestou, até, em ato promovido pela CUT no dia 1º de maio no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, quando o prefeito Fernando Haddad e o ministro Ricardo Berzoini não puderam usar o microfone por causa de estrepitosas vaias. Cabendo assina-lar que a queda desse índice – constatada também em pesquisas internas do PT – deve ter influenciado o ex-presidente a destacar entre as prioridades das campanhas eleitorais deste ano o ataque à imprensa, tratada como “partido de oposição”. Encampando demanda dos mensaleiros e das alas esquerdistas do partido.
O Datafolha programado para este final de semana envolverá, também, avaliação da guinada da tática eleitoral do Planalto e do PT (combinação de “bondades” populistas com radicalismo político e social), indicando se ela será eficiente para reverter a queda de popularidade da presidente/candidata (agravada em pesquisas mais recentes pela ascensão de adversário Aécio Neves), ou se tal erosão prossegue. Neste caso, sendo provável uma retomada, mais forte, do “volta Lula”
Jarbas de Holanda é jornalista
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