• Em jantar com jornalistas, presidente diz não ver por que mudar rumo da política econômica e volta a criticar rivais
• Proposta de Eduardo Campos para reduzir inflação a 3% levaria taxa de desemprego a 8,2%, afirma petista
Natuza Nery, Gustavo Patu - Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - O governo petista captou o desejo da população por mudanças, mas, nos primeiros movimentos da campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff diz apenas o que não vai mudar se for reeleita.
Desde o pronunciamento do Primeiro de Maio, a presidente-candidata promete mais emprego, salário e Bolsa Família, enquanto nega a necessidade de ajustes dolorosos na política econômica.
"Tem gente dizendo que tem medidas impopulares. Tem que ter cuidado para que medida impopular não se transforme em medida antipopular", disse anteontem, em jantar de mais de quatro horas com jornalistas mulheres no Palácio da Alvorada.
A estratégia é assumir o crédito pelo que há de favorável no presente e associar aos adversários os maus presságios para o futuro --foi o tucano Aécio Neves quem se disse disposto a tomar as tais "medidas impopulares".
Eduardo Campos, do PSB, e sua ideia de reduzir a inflação a 3% anuais também mereceram um ataque sem nome citado: "Sabe o que significa? Desemprego lá pelos 8,2%", disse Dilma, com a precisão da casa após a vírgula.
Como Fernando Henrique Cardoso em 1998, Dilma disputará a reeleição sob desconfiança generalizada quanto à sustentabilidade de suas realizações mais vistosas.
Há 16 anos, fazia água a política de controle das cotações do dólar que segurava a alta dos preços. Agora, é a alta dos preços que, ao lado de outras fragilidades da economia, ameaça os resultados positivos do mercado de trabalho.
A inflação está próxima do teto de 6,5% fixado na legislação, com a ajuda de gastos públicos em permanente expansão, especialmente nos programas de transferência de renda às famílias.
Além do buraco nas contas do Tesouro Nacional, o consumo estimulado pelas intervenções oficiais leva o país a acumular deficits nas transações de bens e serviços com o resto do mundo.
Dilma admitiu que "não está tudo bem" com os preços, mas reforça o controle da inflação. E refutou a tese de que serão inevitáveis cortes de gastos públicos e altas de juros, impostos e tarifas depois de conhecido o veredito das urnas: "É absurda essa história de o Brasil explodir em 2015. É ridículo. Pelo contrário, o Brasil vai bombar".
Em sintonia com a chefe, a Fazenda tem apresentado projeções de melhora do cenário global no próximo ano, em dimensões suficientes para tirar a economia brasileira da letargia que completará um mandato presidencial.
Fora do governo, é difícil encontrar quem acredite nisso. As projeções de analistas nativos e estrangeiros são pessimistas para o início do próximo governo e, ao menos por ora, só têm mudado para pior.
"Nunca vi uma conjuntura eleitoral, talvez com exceção de 2010, que não tivesse um baita mau humor", disse a presidente, mencionando o ano em que foi vitoriosa com o impulso de taxas de crescimento econômico vigorosas.
Na época, davam-se como superados os efeitos domésticos da crise internacional e já se falava em providências para conter a piora das contas públicas e da inflação.
Dilma não parece empenhada em conquistar a minoria influente que movimenta o mercado. No jantar, foi lacônica ao comentar a alta da Bolsa com sua queda nas pesquisas: "Sinto muito".
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