sábado, 30 de agosto de 2014

Marina diz que é hora de uma ‘professora dos seringais’ chegar ao poder

• Candidata também afirmou que não existem salvadores da pátria em lançamento de programa de governo

Julianna Granjeia, Mariana Sanches e Sérgio Roxo – O Globo

SÃO PAULO — No lançamento de seu programa de governo nesta sexta-feira em São Paulo, a candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, disse que, após o país eleger um acadêmico e um operário, está na hora de levar ao poder uma professora. Durante 35 minutos de discurso, a presidenciável tentou rebater todas as críticas que vem recebendo de seus adversários.

— Eu vi muita gente desqualificando o Lula. Eu era uma daquelas que fazia de tudo para qualificá-lo, que ficava muito feliz quando o intelectual tinha que dar o aval para o operário poder se colocar como presidente da República. Mas eles esqueceram muito rápido do que tivemos que passar para chegar no lugar que sempre sonhávamos. Mas eu não esqueci. O povo brasileiro, que já elegeu um acadêmico e um operário, haverá de eleger uma professora que veio dos seringais da Amazônia e que traz a marca da floresta, mas aprendeu a viver nos dois mundos: da cidade e da floresta.

A presidenciável defendeu que “pessoas virtuosas criam instituições virtuosas” e que não existem “salvadores da pátria”.

— As mudanças não acontecem em cima do nada. Não existe o novo do novo novo. O novo se faz em cima de algo que é preservado. Não existe essa história de que você é um salvador da pátria. Não existem salvadores da pátria. A pátria é uma construção de homens e mulheres.

O evento começou com um minuto de silêncio em homenagem a Eduardo Campos. Marina também dedicou o início do pronunciamento ao antigo colega de coligação. Após um breve comentário sobre a economia, com críticas aos resultados negativos do crescimento do PIB, a ex-senadora preocupou-se em desfazer a imagem de radicalismo a que sua imagem é associada sobretudo na questão ambiental. Marina disse não ter preconceito em relação ao desenvolvimento da agricultura.

— Um das grandes fontes de geração de emprego é a agricultura. Muita gente pensa que temos preconceito com os agricultores. Muito pelo contrário. Quem defende que a agricultura brasileira possa aumentar a produção por ganho de produtividade, introduzindo tecnologia, inovação e financiamento, isso não tem nada a ver com ter uma atitude contrária ao desenvolvimento econômico da agricultura. Não há como fugir do desafio do século 21. Não encontro nenhum agricultor que me diga: senadora nós queremos o direito de nos desenvolver sem os requerimentos ambientais — afirmou Marina.

A candidata também procurou explicar como pretende buscar governabilidade junto ao Congresso, se eleita, e questionou a eficácia dos métodos atuais. Essa é uma das questões muito usada pelas campanhas adversárias para justificar o discurso de que falta a ela experiência e condições para governar.

— Queremos introduzir uma outra governabilidade. Não adianta ter 400 parlamentares se cada vez que vai votar uma questão importante para a sociedade é uma dor de cabeça, porque vem uma demanda de pedidos fisiológicos e chantagens. Que governabilidade é essa? Queremos a governabilidade programática. Aquela em que se para um setor da estrutura política é importante a estabilidade econômica será que eles não são responsáveis em dar sustentação a essas propostas dentro do Congresso? Se para outros o importante é a inclusão social, será que não é a hora de chamar a responsabilidade para dar sustentação ao Congresso? Eu duvido que, se tivermos um movimento com a altura e a profundidade do que precisa ser feito para que o povo se aproxime da política, isso não vai acontecer.

Marina voltou a se dirigir aos adversários ao criticar mais uma vez a polarização entre PT e PSDB. Ela reafirmou que não se lançará à reeleição em caso de vitória nas urnas este ano.

— Será que a gente suporta mais 4 anos em que as forças políticas não conseguem se escutar? Como vão escutar a sociedade e se não escutam? Elas continuarão fazendo a velha política, a da oposição pela oposição. Não são capazes de compreender que o futuro das gerações não podem ser subordinados aos interesses das próximas eleições.

— Estou assumindo o compromisso de que será apenas esse mandato. Numa democracia é preciso alternância. Para quem tem a realidade que tenho, marcada na carne e na alma, chegar atá aqui é muita coisa e poderá será muito mais se formos capazes de colocar essa agenda para o Brasil.

Nenhum comentário: