Rodrigo Viga Gaier e Patrícia Duarte – Reuters
O Brasil entrou em recessão no primeiro semestre com forte retração nos investimentos e na indústria e a Copa do Mundo prejudicando a atividade econômica, em mais um desafio aos esforços de reeleição da presidente Dilma Rousseff.
A economia brasileira encolheu 0,6 por cento no segundo trimestre de 2014 sobre os três meses anteriores e recuou 0,9 por cento na comparação anual, divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira.
Os resultados no trimestre encerrado em junho vieram piores do que o esperado por economistas em pesquisa Reuters, cujas medianas apontavam para retração de 0,4 por cento do PIB sobre o primeiro trimestre e de 0,6 por cento na comparação anual.
O desempenho do primeiro trimestre deste ano sobre o quarto trimestre de 2013 foi revisado para mostrar contração de 0,2 por cento, contra avanço de 0,2 por cento divulgado anteriormente, levando o país a entrar em recessão.
O Brasil não vivia essa situação, quando há dois trimestres seguidos de contração, desde a crise financeira global de 2008/2009 e alguns economistas já esperam que o PIB ficará estagnado neste ano.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), uma medida de investimentos, recuou 5,3 por cento no trimestre passado sobre o período imediatamente anterior. Foi o pior resultado desde 2009 e marcou o quarto trimestre seguido de retração. Na comparação com o mesmo período de 2013, a FBCF de abril a junho teve queda 11,20 por cento.
A taxa de investimento no país como proporção do PIB ficou em 16,5 por cento no segundo trimestre, o pior resultado para esse período desde 2006, quando tinha ficado em 16,4 por cento.
"Todos os componentes caíram, máquinas e equipamentos e construção civil... Isso é uma conjunção de vários fatores, como a alta da (taxa básica de juro) Selic, a desaceleração do crédito... e férias coletivas e parada na indústria automotiva", afirmou a economista IBGE, Rebeca Palis.
O resultado da indústria também foi negativo no trimestre passado, com retração de 1,50 por cento sobre o período anterior e de 3,4 por cento contra um ano antes, segundo o IBGE.
Um dos fatores que pesaram na economia no segundo trimestre foi a realização da Copa do Mundo, devido ao menor número de dias úteis em razão de feriados.
O IBGE também informou que o consumo do governo recuou 0,7 por cento no segundo trimestre sobre o primeiro, enquanto que o consumo das famílias cresceu 0,3 por cento na mesma base de comparação.
A agropecuária teve expansão de 0,2 por cento no segundo trimestre sobre janeiro a março e ficou estável em relação a igual período de 2013.
PIB zero?
Uma eventual recuperação da economia no segundo semestre ainda é incerta, segundo analistas. Mesmo que o país saia da recessão técnica, o desempenho ainda continuaria fraco.
O economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves, em nota, manteve a projeção de crescimento do PIB em 2014 em 0,6 por cento, "corresponde ao cenário de crescimento médio zero nos dois trimestres finais de 2014", completou. Em 2013, o PIB teve expansão de 2,5 por cento
Mais pessimista, o economista-chefe do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, reduziu sua estimativa de incremento da economia brasileira neste ano de 0,5 por cento para zero. "Os dados disponíveis até agora para o terceiro trimestre estão destruindo qualquer esperança de recuperação técnica significativa na segunda metade do ano", afirmou.
O momento atual da economia é o pior vivido durante o governo Dilma, que tenta a reeleição em outubro.
Os anos anteriores, porém, também foram difíceis. Ao finalizar seu mandato neste ano, a presidente entregará a pior taxa média anual de crescimento da economia brasileira nos últimos 20 anos, de 1,7 por cento, se confirmada a expectativa do mercado de expansão de 0,7 por cento do PIB este ano, segundo pesquisa Focus do Banco Central.
Os recentes resultados ruins da economia devem prejudicar ainda mais as chances de Dilma nas eleições. Em pesquisas recentes, a petista aparece perdendo para a candidata Marina Silva (PSB) num eventual segundo turno.
"Provavelmente Dilma sofrerá mais nas pesquisas. Somado às outras notícias ruins para o governo e ao 'efeito Marina'", afirmou o analista político André César, referindo-se aos questionamentos envolvendo a gestão da Petrobras, entre outros. "O governo não consegue se livrar dessas questões", acrescentou.
(Reportagem adicional de Felipe Pontes, no Rio de Janeiro)
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