Mauro Paulino
Diretor-Geral do Datafolha
Alessandro Janoni
Diretor de Pesquisas do Datafolha
- Folha de S. Paulo
O crescimento de Marina reflete muito mais a percepção positiva que a ambientalista conseguiu imprimir junto ao eleitorado em sua reapresentação como candidata do que uma eventual comoção pela morte de Eduardo Campos.
Diferentemente de seus adversários, ela aproveitou bem o espaço que lhe cabia nos eventos de mídia que ocorreram no período. Criou expectativa para a oficialização de sua candidatura e transmitiu protagonismo em debates e entrevistas de repercussão.
Mesmo com pouco tempo no horário eleitoral, figura como uma das candidatas de melhor desempenho no programa. Se o discurso da chamada "terceira via", da crise de representação e da descrença na política vinha encontrando maior aderência no perfil mais próximo dos manifestantes de 2013 e dos que votariam em branco ou anulariam o voto --mais jovens, de alta escolaridade e moradores das regiões metropolitanas--, Marina invade agora outros territórios.
Supera seu recall de 2010 (teve 18% do total de votos naquele ano) e sua melhor marca no Datafolha em 2014 (27% em abril deste ano) ao elevar seu apoio em estratos de grande peso quantitativo.
Ultrapassa e abre vantagem sobre Aécio Neves nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde o tucano tinha taxas expressivas de intenção de voto, além de crescer de maneira significativa entre os de menor renda e baixa escolaridade, grupos onde Dilma e o governo sempre demonstraram grande força.
Nesse novo ambiente, a candidata agrega à sua taxa de intenção de voto cerca de cinco pontos percentuais de eleitores com perfil mais volúvel, isto é, que escolhem Marina ao serem estimulados, mas ainda se mostram incertos sobre a opção.
Desse conjunto, a maioria rejeita Dilma e mostra alguma simpatia por Aécio. Quanto ao potencial, o alto grau de possibilidade de conversão à candidatura da ex-ministra, que já foi de oito pontos, agora fica em cinco.
Sobre os resultados de segundo turno, é cedo para conclusões. A dinâmica e a lógica da disputa devem mudar.
Se a crítica à polarização entre PT e PSDB encontrou respaldo popular, o histórico do confronto em anos anteriores tampouco serve de referência. E mesmo com a vantagem atual de dez pontos de Marina sobre Dilma, a vitória dependerá do grau de cristalização de seu novo eleitorado.
Propostas concretas e um claro programa de governo, em resposta às demandas da população e à incerteza no cenário econômico serão decisivos. A ênfase exclusiva no discurso da "nova política" pode, com o tempo, afastar parte dos recém-conquistados eleitores da ambientalista, que deixou de ser coadjuvante na sucessão.
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