• Aumento dos juros nos EUA pode vir antes do previsto
Valor Econômico
A política monetária está no ponto certo para o Brasil enfrentar os efeitos do aumento dos juros americanos, no ano que vem; e o programa de "swap cambial", previsto para vigorar até 31 de dezembro, durará o tempo que for necessário para que o mercado de câmbio encontre as "condições ideais". O Banco Central trabalha, hoje, com essas premissas na administração de dois importantes preços da economia - os juros e o câmbio - e sugere que elas independem do calendário eleitoral doméstico.
Avalia, também, que a normalização da política monetária nos Estados Unidos - e o consequente aumento dos juros - pode ocorrer antes do segundo semestre de 2015. Os efeitos de uma elevação da taxa de juros americana sobre o Brasil tendem a ser neutralizados, mas pouco, por um novo estímulo na zona do euro, como acenou Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), no simpósio de Jackson Hole há uma semana. A resistência da Alemanha a um "quantitative easing" adicional, porém, não foi vencida.
A economia americana prossegue avançando na recuperação, a Europa patina, o Japão decepciona e a China, com crescimento estável na casa dos 7,5%, saiu do primeiro plano.
A retomada da atividade econômica nos EUA é uma realidade. Os dados do mercado de trabalho ainda sustentam os argumentos do Federal Reserve Bank (Fed), mas estão melhorando em todos os seus ângulos. Isso leva a autoridade monetária brasileira a considerar que o aumento dos juros, lá, pode ser antecipado. E uma eventual redução da Selic, aqui, não deve ser precipitada.
A presidente do Fed, Janet Yellen, no encontro de Jackson Hole, disse que apesar dos sinais indicarem recuperação, faltam provas concretas de uma retomada efetiva do mercado de trabalho. Economistas do BC procuram esmiuçar os argumentos de Yellen, mediante análise detalhada das informações do mercado de trabalho americano.
A meta de redução do desemprego para 6,5% foi alcançada e hoje a taxa é de 6,2%. Isso, porém, não seria suficiente para dar conforto ao Fed, porque continua elevado o desemprego de longo prazo, que mede o número de trabalhadores sem emprego há mais de seis meses. Essa taxa era de 45% em 2011 e caiu para 32,8% este ano. O emprego temporário - quem procura trabalho em período integral mas só consegue de meio período - está elevado, mas também em queda. A taxa de participação, que saiu de 67% em 2011 para 62,9% este ano, responde por parte da queda do desemprego.
A presidente do Fed adicionou novo conceito na questão do trabalho, relativo a uma deflação reprimida dos salários. Quando do ajuste por causa da crise de 2008-2009, empregos foram destruídos, mas os salários não tiveram queda. Por isso, indicou ela, mesmo com um mercado de trabalho mais forte agora não deve haver aumento dos salários.
"Com a política monetária apertada e a manutenção do programa de leilão de swap cambial, quem ocupar a cadeira do BC (no novo governo) poderá ficar tranquilo", comentou uma graduada fonte do governo. Embora a última versão do programa tenha previsto o fim dos leilões para 31 de dezembro, a intenção do BC é continuar ofertando hedge. Com isso o Brasil estaria em boas condições para atravessar o processo de normalização das condições monetárias nos EUA
O mercado reclama que o BC está indo longe demais na intervenção do câmbio. O BC não concorda e diz que quando lançou o programa, em agosto de 2013, pensava fazer leilões de swap no valor de US$ 100 bilhões até dezembro do ano passado, cifra que não foi atingida até agora, passados oito meses de 2014.
Não concorda, também, com a ideia de que está segurando o câmbio e que, mais cedo ou mais tarde, haverá desvalorização. Entre junho de 2011, quando do dólar era cotado a R$ 1,55 e hoje, com cotação de R$ 2,24, a desvalorização é de 40% em termos nominais, para uma inflação acumulada no período de 19%. Portanto, houve desvalorização de cerca de 20%, alega. A volatilidade, sim, caiu em relação ao passado, mas não está menor do que no Chile, México, Turquia, dentre outros emergentes.
O avanço da candidatura de Marina Silva, do PSB, nas pesquisas de intenção de voto abriu nova e tardia discussão no núcleo da campanha da presidente Dilma Rousseff, sobre a necessidade de ela dar um sinal de que é a candidata mais segura para o setor privado e não uma "aventura". No Palácio do Planalto, admite-se que há quem defenda tal movimento, mas não que ele será acatado por Dilma.
Mesmo os que acham que é preciso passar ao mercado financeiro e aos agentes econômicos em geral - hoje entusiasmados com a possibilidade da derrota de Dilma - uma mensagem amigável para um eventual segundo mandato, não consegue definir que sinal seria esse a essa altura do campeonato. Sabe-se só o que deve ser descartado. Nesse rol estaria algo como a Carta aos Brasileiros, de Lula. Em meados de 2002, e em meio a fortes turbulências movidas por medo de um governo do PT, Lula escreveu a carta comprometendo-se a respeitar contratos e a manter a estabilidade econômica. Com maior ou menor ênfase, Lula cumpriu os termos da carta e conquistou a confiança do mercado.
Houve, ao longo dos três anos e meio de mandato, várias oportunidades de dar uma "virada" no governo Dilma, na direção que o setor privado gostaria: cumprimento dos compromissos fiscais, controle inequívoco da inflação e respeito ao sistema de preços.
Sob o incentivo de Lula, ela cogitou fazer mudanças de nomes na condução da política econômica em 2013, mas recuou. Afinal, Dilma é quem dá os rumos na economia, e trocar pessoas da sua total confiança seria uma "intervenção" indevida no seu governo.
Agora, preparada para enfrentar Aécio Neves, do PSDB, no debate eleitoral, a presidente tem que refazer seu discurso para se distinguir de Marina. "O mercado não elege ninguém, mas é mais difícil eleger alguém contra o mercado", disse um experiente dirigente de um grande banco.
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