sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Mantega entra na eleição e ataca Armínio

• Ministro entra na campanha e defende legado de Lula e Dilma

Martha Beck e Cristiane Jungblut – O Globo

BRASÍLIA – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, partiu ontem para o ataque contra os adversários da presidente Dilma Rousseff na corrida presidencial. Repetindo uma fórmula que já havia sido usada em 2002 pelo então presidente do Banco Central (BC), Arminio Fraga, para criticar o candidato Lula, Mantega disse que algumas das propostas que estão surgindo hoje, especialmente para o combate à inflação, podem acabar provocando recessão e desemprego.

Mantega aludiu ao ex-presidente do BC no governo Fernando Henrique, apontado como o futuro ministro da Fazenda caso o candidato do PSDB, Aécio Neves, vença a disputa nas urnas. Arminio faz críticas aos rumos da política econômica e promete mudanças. Sem citar nomes, o ministro da Fazenda disse:

- Tem um (assessor de) candidato aí que era presidente do Banco Central que não cumpriu as metas de inflação, que entregou uma inflação maior do que nós entregamos. Nós cumprimos o câmbio flutuante. No passado, não cumpriram, pelo contrário, engessaram o câmbio e provocaram uma crise em 1999.

"Juros estratosféricos"
A atitude de Mantega é semelhante à de Fraga em 2002. Em meio às turbulências no mercado financeiro às vésperas da eleição presidencial, o então presidente do BC atribuiu a instabilidade à falta de clareza de Lula em suas propostas econômicas. Numa entrevista para acalmar o mercado e tentar segurar a disparada do dólar, Fraga afirmou que era preciso "rechaçar os caminhos estapafúrdios e apresentar com mais clareza os programas":

- Conhecemos alternativas e tentativas de soluções mágicas. Fala-se em reestruturação de dívida pública e controles no câmbio. Se os candidatos têm alternativas, que as mostrem em detalhes - desafiou à época.

Durante a divulgação da proposta orçamentária de 2015, Mantega foi perguntado sobre as ideias que outros candidatos à Presidência vêm apresentando para mudar a condução da política econômica.

- Me preocupa muito a política monetária que vai ser praticada pelo que estou ouvindo. Estão falando em política monetária que vai combater a inflação de uma forma radical. Nós poderemos voltar aos juros estratosféricos que tínhamos no passado, onde só o setor financeiro levava vantagem - afirmou o ministro acrescentando: - Podem até ser bem-sucedidos (no combate à inflação), mas vão criar recessão, desemprego, e a população vai regredir. Tudo isso que a população avançou corre o risco de ser revertido. É perigoso.

Arminio Fraga foi procurado pelo GLOBO, mas não retornou aos contatos.

Solidez financeira
Ao lado do secretário do Tesouro, Arno Augustin, Mantega foi incisivo ao defender o legado da política econômica dos governos Lula e Dilma:

- Vamos deixar um país sólido. Uma economia pronta para um novo ciclo de crescimento. Um país que tem reservas e, assim, não sofre turbulências ou evasões de capital. Somos credores, emprestamos a outros países. É uma situação de solidez financeira. A população brasileira é a que menos sofreu a crise internacional. O emprego e a renda continuaram aumentando. E chegamos a ter uma situação de quase pleno emprego.

O ministro, no entanto, sinalizou que o governo não conseguirá realizar o superávit primário prometido para 2014, de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo ele, a situação fiscal está difícil este ano em função do fraco desempenho da economia e das receitas:

- Este ano está sendo mais difícil, mas vamos continuar trabalhando para fazer o maior primário possível.

Bem-humorado, Mantega brincou ao comentar o pequeno aumento do orçamento de sua pasta para 2015:

- A Fazenda é sempre sacrificada pelo Planejamento. O orçamento subiu um pouco porque tem emissão de cédulas. Mas continuamos naquela pindaíba que tem nos caracterizado.

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