• Presidente nega interferência e afirma que titular do órgão pode cair, se houver "falta"
Cristiane Jungblut, Martha Beck, Karla Mendes e Marcello Corrêa – O Globo
BRASÍLIA e RIO - A presidente Dilma Rousseff disse ontem que o IBGE cometeu um "erro banal" e que não vê indícios de "conspiração" no caso da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2013. O levantamento foi divulgado, na quinta-feira passada, com erros nos dados de sete estados que tiveram que ser corrigidos no dia seguinte. Dilma rebateu críticas, afirmando que não há sucateamento do IBGE, e foi dura em relação à presidente do órgão, Wasmália Bivar. Para a presidente, Wasmália se considerar ou não confortável no cargo é uma decisão pessoal da chefe do IBGE. Ela avisou, contudo, que, se for constatada alguma "falta", não haverá condições de mantê-la no posto.
- Em princípio, não julgo ninguém antes das provas. Agora, a decisão a respeito do conforto (de ficar no cargo) é dela (presidente do IBGE), é pessoal e não é minha. Se se caracterizar qualquer falta, é óbvio que ela não pode ficar no cargo. Mas, não tendo falta... Não vi até agora problema de gestão maior. Tem problema, sim, de fazerem simultaneamente várias pesquisas. Tem hora que querem fazer de um jeito, tem hora que querem fazer de outro - disse Dilma, numa crítica ao órgão.
Pesquisas suspensas
A presidente descartou interferência política no instituto:
- O IBGE é um órgão respeitável e acho que erro ocorre sempre que tem ser humano envolvido. Não tem interferência coisíssima nenhuma. Ficamos tão surpreendidos como todo mundo, até porque tínhamos uma avaliação de que estava tudo OK. É um erro banal, de fácil detecção. Não tem uma conspiração, pelo menos é o que parece, porque o erro é simples - afirmou.
Dilma disse que o governo sempre abre sindicância, como no caso da mudança de perfis de jornalistas no Wikipédia. Segundo a presidente, na sua gestão houve elevação de verba e de servidores do órgão.
- Quero saber que órgão que é sucateado se, no meu governo, contratamos 834 servidores por concurso. E contratamos, em torno, de 7.300 funcionários temporários, que são aqueles agentes que fazem pesquisa na rua. Sucateamento havia no IBGE quando o IBGE não tinha funcionário. Se pegar do Lula até 2013, dá um aumento de 7% de funcionários - disse.
Embora o Ministério do Planejamento tenha autorizado novas contratações para reforçar os quadros do IBGE nos últimos quatro anos, o número de servidores ativos do instituto está menor hoje do que no início de 2011, quando Dilma Rousseff tomou posse. Levantamento feito pelo GLOBO junto ao Boletim Estatístico de Pessoal, divulgado em julho, mostra que o total de funcionários do IBGE na ativa é de 6.083. O número é 14% menor que em dezembro de 2010, quando era de 7.076.
O orçamento do instituto aprovado para 2014 foi de R$ 2,1 bilhões. Deste total, 85%, ou R$ 1,79 bilhão, foram empenhados. Ou seja, o governo se comprometeu a fazer esses gastos e pagá-los futuramente. O valor efetivamente pago somou, até agora, R$ 1,25 bilhão. O governo também desembolsou outros R$ 17 milhões para arcar com despesas do orçamento de 2013 que foram jogadas para 2014. Para 2015, a verba prevista no projeto de lei do Orçamento da União enviado ao Congresso foi de R$ 2,09 bilhões. Mas houve redução relevante nos recursos para pesquisas: são apenas R$ 286,2 milhões. Em 2014, eram R$ 462 milhões. Com o corte no orçamento para 2015, o instituto anunciou no início deste mês que suspenderia duas pesquisas: Contagem da População 2016 e o Censo Agropecuário 2015.
Especialistas divergem sobre falhas
Para o presidente do IBGE de 1999 a 2003, o economista Sérgio Besserman, o maior impacto desse corte será o da suspensão da Contagem Populacional, uma espécie de prévia do Censo.
- A contagem tem uma importância grande, principalmente para cidades e regiões metropolitanas. Falando em Rio de Janeiro: onde estão as crianças que precisam das escolas? Onde a população está ficando mais idosa? Cinco anos é um tempo em que as coisas mudam. A contagem ajudaria as cidades a se conhecerem - diz o especialista, que descarta que a possibilidade de o erro na Pnad ter alguma relação com falta de recursos.
Para Susana Drumond, diretora do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE (ASSIBGE-SN), a reação do governo em relação ao erro da pesquisa é exagerada e põe em xeque a isenção do órgão.
- O que não se pode permitir é um processo de caça às bruxas no IBGE. O que está sendo feito é uma intervenção na instituição, que tem que ser isenta.
Susana diz que a falta de pessoal é o maior problema do instituto. E ressalta que entre 5.500 funcionários da instituição, 49% têm mais de 31 anos de casa. Ela aponta o alto grau de terceirização do corpo técnico como outro problema.
Felipe Salto, economista da consultoria Tendências, considera "no mínimo estranho" o erro do IBGE. Ele defende a formação de uma comissão isenta, sem ligações com o governo, para apurar o caso.
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