- O Globo
A presidente Dilma Rousseff tem um caminho bem mais acidentado para conseguir a reeleição do que teve em 2010, especialmente pelo desejo de mudança que as pesquisas eleitorais vêm captando entre cerca de 70% dos eleitores.
Mas a oposição também não tem tido capacidade, até o momento, de atrair esse eleitorado descontente, o que faz com que Dilma permaneça na liderança da corrida presidencial e o índice de votos brancos e nulos se apresente extremamente alto para esta época da campanha, beneficiando quem está à frente da corrida, pois precisará de menos votos válidos para vencer.
Na pesquisa realizada em julho pelo Ibope, o índice de votos brancos e nulos ficou em torno de 16%, mais que o dobro do encontrado na mesma época em 2010, no registro da diretora daquele instituto, Marcia Cavallari. Não é à toa, portanto, que os oposicionistas começam a se preocupar com essa tendência, que pode representar tanto falta de interesse pelas eleições como desencanto com a política.
A não identificação dos eleitores com os candidatos oposicionistas é uma questão a ser atacada nas propagandas eleitorais de rádio e televisão, mas o candidato tucano Aécio Neves prepara-se para fazer uma campanha especial contra o voto nulo e branco, esclarecendo que ele beneficia geralmente os candidatos contra quem se quer protestar, na suposição de que o protesto sempre será em maior escala contra os que estão no governo.
Segundo Marcia Cavalari em entrevista ao “Estadão”, os eleitores que hoje dizem ter intenção de votar em branco ou nulo são mais escolarizados, possuem renda familiar mais elevada e vivem em grandes centros urbanos, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, um perfil bastante semelhante ao dos manifestantes de 2013. “Portanto, eles podem sim, ao longo da campanha, mudar para os candidatos de oposição”, analisa Cavalari, para quem a probabilidade desse tipo de eleitor votar na presidente Dilma “é bem mais baixa’.
Outra questão difícil para a presidente Dilma é o jogo do segundo turno, já que os índices do governo não facilitam a possibilidade de vencer a eleição no primeiro turno.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi reeleito em 1998 em meio a grandes dificuldades econômicas, a ponto de ter sido obrigado a desvalorizar o Real imediatamente após a vitória nas urnas.
Mas naquele momento o ambiente político era favorável à continuidade do Plano Real, e a permanência de FHC à frente do governo era uma garantia do projeto econômico, que tinha o apoio generalizado no Congresso e na população, tanto que a reeleição foi aprovada de maneira quase consensual na sociedade. Mas ele temia que, num segundo turno, o desgaste do governo aumentasse.
Hoje, um segundo turno será mais apertado do que se supunha, segundo as pesquisas, e a chance de vitória de qualquer um da oposição é real. O apoio da maioria dos eleitores de Eduardo Campos a Aécio contra Dilma num segundo turno acontecerá naturalmente, e será difícil a ele ficar em cima do muro, como Marina fez em 2010 e provavelmente fará este ano, pois na campanha sua ação será sempre contra Dilma e o PT, preservando o ex-presidente Lula. Segundo as pesquisas, 55% dos eleitores de Campos declaram preferir Aécio, enquanto apenas 26% votariam em Dilma.
O apoio do eleitorado de Aécio Neves a Campos também será natural. Os eleitores do pastor Everaldo, do PSC, também estarão naturalmente na oposição, pelo tom que ele está dando à sua campanha, e sua perspectiva eleitoral é muito boa, garantindo- lhe espaço político nas negociações do segundo turno.
E a presidente Dilma tem ainda problemas a resolver no eleitorado de extrema-esquerda, que pelo visto prefere uma derrota do PT: 64% dos eleitores do PSOL votam Aécio num segundo turno, assim como metade dos eleitores do PSTU.
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