- O Globo
O Brasil está vivendo nesta eleição o que já tínhamos superado em 2002: temores do mercado e oscilação de ativos em função das pesquisas. Em 2006 e 2010, as simpatias pelos candidatos se distribuíram de maneira natural, porque o primeiro governo Lula havia mitigado o temor de que a vitória de uma corrente política significasse risco econômico. O velho clima voltou.
Em 2002, o eleitorado queria mudança após dois mandatos com o mesmo partido, mas desde que isso não significasse a perda de conquistas, como a estabilização da moeda. O primeiro programa do então candidato Lula veio com as velhas e amalucadas ideias de auditoria na dívida interna e externa, revogação de privatização, centralização cambial. O Partido dos Trabalhadores pagava, na época, o preço de suas próprias atitudes ao ficar contra o Plano Real e todos os seus avanços, como a Lei de Responsabilidade Fiscal. Quanto mais Lula subia nas pesquisas, mais o dólar disparava.
A Carta aos Brasileiros, a atuação do ministro Palocci, o trabalho cooperativo na transição e a escolha dos nomes da primeira equipe econômica permitiram ao país dar um passo importante no seu amadurecimento institucional. Ficou claro que o mercado financeiro poderia gostar de qualquer um dos candidatos, mas a vitória do outro não representaria risco de adoção de uma política econômica que levasse à instabilidade.
O curioso é: por que voltou agora esse clima, se ele se concentra na continuidade e não na mudança para um governante novo? A atual administração acumulou uma série de erros na condução da política econômica e não esclareceu o que pretende fazer num segundo mandato para corrigir os desequilíbrios. Nas entrevistas, a presidente Dilma repete frases de efeito, faz afirmações que os fatos não confirmam, sustenta números discutíveis. Na quarta-feira, por exemplo, ela elogiou sua política industrial e, na sexta-feira, saíram dados de queda forte da indústria. Dilma deveria esclarecer seus projetos porque está na frente das pesquisas e seus métodos de governar são bem conhecidos.
O episódio da demissão de uma analista do Santander é patético. Primeiro porque ela fez uma análise binária. De fato a Bolsa tem oscilado na razão inversa da intenção de voto da presidente. Segundo, porque o governo tratou o fato de forma histriônica, como se fosse uma “inadmissível” interferência estrangeira. Terceiro, porque o banco se curvou, pediu desculpas, demitiu a analista.
É assim, de forma subserviente, que se comportam os chamados agentes econômicos. A presença do governo sempre foi grande na economia e isso aumentou no atual mandato. Os bancos ganham muito dinheiro, o setor elétrico está sendo socorrido, as indústrias têm redução de imposto e empréstimo subsidiado. Todos temem o governo porque dele dependem. Na preparação de mais uma rodada do empréstimo ao setor elétrico, alguns bancos disseram que não iriam participar. O governo os enquadrou e eles ficaram. Foi apenas atendido o pedido de jogar a maior parte do peso sobre os bancos públicos.
Esse empréstimo é obviamente uma insanidade que seria reprovada por qualquer modelo independente de risco bancário. O tomador não tem ativos, é uma câmara de empresários. Já recebeu a exorbitância de R$ 11,2 bilhões em créditos. O dinheiro foi todo entregue às distribuidoras. A garantia bancária é apenas um documento do órgão regulador autorizando a cobrança do empréstimo e juros na conta a ser enviada ao consumidor a partir do ano que vem. O dinheiro não foi suficiente e o governo pediu mais R$ 6,5 bilhões.
A ação da Petrobras sobe e desce conforme os ventos eleitorais. Isso acontece por que no mercado há mentes malévolas conspirando contra a empresa ou porque a atual administração impôs uma política de preços que dá prejuízo à estatal?
A lista é extensa, mas a matriz é a mesma e tem produzido efeitos negativos: o país não está crescendo, a inflação é alta, há preços represados, piora dos números fiscais, queda da corrente de comércio externo e uma confusão no setor elétrico. O ano de 2015 será de ajuste. A ansiedade maior recai sobre o que fará a presidente Dilma para corrigir o que foi feito em sua administração. Ela ainda não disse. Pelo contrário, tem defendido as escolhas que fez.
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