• De repente, como se um ralo diluviano tivesse tragado ontem toda a água, governos passam a acordar para a crise
- Folha de S. Paulo
Governos mentem de modo sem vergonha, bidu. Parecem mentir ainda mais quando suas vergonhas ficam nuas, embora de costume não tenham vergonha, tal como mentiram no caso da escassez de água e luz, que parecia uma intriga da oposição até outro dia. O que houve subitamente com a água que não faltaria? Sumiu pelo mesmo ralo por onde havia escoado o resto da vergonha na cara dos governantes?
Três meses depois da eleição, passa-se a usar a palavra-tabu "racionamento": para água, luz, gasto público etc. Quem toma a iniciativa de dizer que a água ou o dinheiro subiram no telhado são as figuras recém-nomeadas para arrumar a bagunça deixada pelos governos Dilma 1 e Alckmin "n-1". Os responsáveis maiores pela lambança fingem-se de mortos.
O governo de São Paulo, por exemplo, começou a avisar empresário industrial na semana passada que vai ser preciso dar um jeito de fazer cortes, além de anunciar que #nãovaiteralface, pois descobriu agora, apenas agora, que várias hortas são irrigadas de modo perdulário. Se tal coisa acontece com abobrinhas e tomates, imagine o que se passa com a captação industrial de água de rio. Bom dia, governo Alckmin.
Na sexta-feira, o governo fede- ral disse que vai preparar medidas de socorro aos Estados e incenti- var o uso racional da água, tudo de modo a evitar racionamentos. É escárnio, é besteira e é até um tiro no próprio pé da propaganda enganosa pedestre.
Escárnio. Onde estava o governo até agora? De férias nas cataratas do Niágara? Não viu que durante 2014 o nível das represas caía a índices apavorantes, dos lagos das hidrelétricas às represas de Geraldo "Não Vai Faltar Água" Alckmin? Aliás, represas que esvaziavam também por causa da negligência dos governos federal e paulista.
Besteira. Como assim, "evitar o racionamento"? Ainda que o Imponderável de Almeida e os Deuses da Chuva por sorte nos socorram, a atitude correta (desde o verão de 2014, aliás) é se preparar para o pior de modo a evitar o inominável, que ainda dá para evitar se não vier outro ano de seca. É preciso racionar água ou "racionalizar", seja lá qual for o método para fazer a coisa direito ou o eufemismo para dourar a pílula.
Tiro no pé. Se o governo promete "socorrer os Estados", é porque de socorro carecem. Se carecem de socorro, é porque há risco de falta d'água e, assim, risco de falta de luz, negado até quase ontem pelo Planalto. Bom dia, governo Dilma. Acorde. Onde está João Santana, o marqueteiro, o melhor ministro de Dilma 1? Sem Santana, o governo se afoga até no seco.
Nesse clima de "barata avoa", soube-se na sexta-feira que, pelo modelo de gerência de custos e produção do sistema elétrico, voltamos a entrar no primeiro nível de escassez crítica, no qual é melhor economizar (até 5%) do que produzir energia (um indicativo teórico de "racionalização"). Os reservatórios do Sudeste continuam a baixar, assim como a previsão de entrada de águas nas usinas da região, no pior janeiro em 80 anos.
Foi mais de ano de mentiras, categoria na qual se incluem omissões, desconversas, dissimulações e outras mumunhas. Enrolaram tal e qual o governo FHC, em 2000, véspera do apagão.
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