• MPF e PF trocam acusações sobre ordem dos depoimentos de políticos
• Possível existência de perguntas e respostas prontas numa dessas oitivas também contribuiu para adiamento
Vinicius Sassine – O Globo
BRASÍLIA — Dois episódios estão entre os motivos para a decisão da Procuradoria Geral da República (PGR) de pedir a suspensão de investigações envolvendo políticos na Operação Lava-Jato: a pressão de assessores parlamentares junto à Polícia Federal (PF) para agilizar os depoimentos de pelo menos dois investigados e a existência de perguntas e respostas prontas numa dessas oitivas, antes mesmo da chegada de um procurador da República para participar do depoimento. O GLOBO apurou que a pressão partiu de assessores dos senadores Humberto Costa (PT-PE), líder do partido no Senado, e Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Os dois são suspeitos de receber recursos desviados da Petrobras para suas campanhas eleitorais. Os inquéritos abertos no Supremo Tribunal Federal (STF) investigam os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Humberto e Gleisi já teriam sido ouvidos pela PF, após a pressão dos assessores. O caso envolvendo a existência prévia de perguntas e respostas é o de Gleisi. Não é usual um depoimento começar com uma transcrição pré-existente do material. Quando a senadora chegou para depor, o delegado da PF já detinha os papéis. Não está claro quem produziu o material. Todo depoimento conta com a participação de um delegado e de um procurador da República.
Ao pedir a suspensão das diligências ao ministro do STF Teori Zavascki, relator dos processos da Lava-Jato, a PGR levou em conta que os depoimentos colhidos até então não obedeciam a uma coordenação lógica, com investigados sendo ouvidos antes de testemunhas. Teori concordou com a suspensão. A ideia da PGR é restabelecer uma coordenação mais produtiva dessas diligências.
A previsão é que os depoimentos sejam retomados já na próxima semana, após o Feriado de Tiradentes, em 21 de abril, terça-feira. A ordem das oitivas já seria a nova a ser estabelecida pelos investigadores.
O grupo de trabalho montado na PGR para investigar autoridades com foro privilegiado já negocia uma reunião com o grupo de delegados da PF responsável pelas diligências. O objetivo é acertar os detalhes desse novo cronograma. Ao todo, 13 senadores, 22 deputados federais e 12 ex-deputados federais – além do tesoureiro do PT João Vaccari Neto e do operador do PMDB, Fernando Baiano – são investigados em inquéritos abertos no STF.
Oficialmente, a PF não quis comentar o caso. Mas investigadores do caso negaram que tenha havido algum tipo de concessão aos investigados. E disseram que um delegado teria apenas elaborado um roteiro de perguntas, mas sem mostrá-lo ao interrogado. Segundo um policial, se tivesse havido, de fato combinação de pergunta e resposta, o procurador que alega ter visto isso teria que ter pedido investigação contra o delegado sob pena de estar prevaricando.
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