• Com os empréstimos dos bancos brasileiros e uma operação de US$ 3 bi com o britânico Standard Chartered, estatal diz ter garantido o caixa de 2015; consultor estranha a concessão de financiamentos antes da divulgação do balanço de 2014
Antonio Pita, Fernanda Nunes - O Estado de S. Paulo
Às vésperas de apresentar seu balanço financeiro, a Petrobrás anunciou nesta sexta-feira a contratação de R$ 9,5 bilhões em financiamentos com três bancos nacionais – Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bradesco. A estatal também firmou um acordo de cooperação com o britânico Standard Chartered, no valor de US$ 3 bilhões (R$ 9,2 bilhões), tendo como garantia a venda de plataformas. Segundo a estatal, os financiamentos aprovados de R$ 18,7 bilhões garantem os recursos necessários para a operação em 2015, mas alertou que ainda busca oportunidades para “antecipar as necessidades” do próximo ano.
A estatal já havia firmado, em março, financiamento com o Banco de Desenvolvimento da China (BDC), no valor de US$ 3,5 bilhões. Com os novos recursos, a Petrobrás já soma mais de R$ 29 bilhões em captações desde que a atual diretoria, comandada pelo presidente Aldemir Bendine, assumiu a empresa, em fevereiro. A gestão anterior, liderada por Graça Foster, descartava financiamentos em 2015. A corrida aos bancos revela a dimensão da fragilidade financeira da companhia, afetada pela alta do dólar no início do ano.
“Essas operações, somadas a outras já executadas neste ano, atendem às necessidades de financiamento da companhia para 2015. A Petrobrás continuará avaliando oportunidades de financiamento visando antecipar parte das necessidades de 2016”, disse a estatal, em comunicado distribuído ao mercado após o fechamento da Bolsa.
Pelo acordo, o BB financiará R$ 4,5 bilhões como “nota de crédito à exportação”, por meio da subsidiária BR Distribuidora. O financiamento terá prazo de seis anos. Já o financiamento da Caixa, no valor de R$ 2 bilhões, também foi “pré-aprovado” com prazo de cinco anos, segundo o comunicado. As mesmas condições valem para o Bradesco, com financiamento de R$ 3 bilhões.
O Estado antecipou, em fevereiro, que a cúpula da estatal negociava financiamento com a União, por meio dos bancos públicos, com condições que limitassem o impacto sobre a alavancagem (relação entre patrimônio e dívida).
“Fico impressionado com a coragem dos bancos nacionais ao assumir o risco de emprestar a uma empresa sem balanço auditado”, ironiza o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Pires lembra que, na última semana, o Bradesco fez indicações para vagas no conselho de administração da empresa, como representante de acionistas minoritários. “Chama a atenção que o empréstimo foi tomado dias antes do balanço. Com a divulgação, se esperaria que a Petrobrás conseguisse uma janela de crédito melhor, mas esse financiamento levanta desconfiança sobre os resultados, se serão positivos ou se os bancos já sabem os números”, avalia Pires.
Alavancagem. Já o banco britânico Standard Chartered fechou a operação mais “sui generis” do pacote anunciado nesta sexta-feira. O financiamento foi firmado no valor de US$ 3 bilhões, com prazo de dez anos. O “acordo de cooperação” prevê a operação de “venda com arrendamento” de plataformas de produção, com opção de recompra pela estatal.
Na prática, as unidades serão oferecidas como garantias ao financiamento, mas continuarão sendo utilizadas pela estatal, que após o prazo poderá reaver o ativo. “Esse financiamento e o acordo com o banco chinês não são empréstimos normais. Eles exigem contrapartida física da Petrobrás”, diz Pires.
A opção também indica a preocupação da diretoria financeira, liderada por Ivan Monteiro, com os indicadores de alavancagem (endividamento) – principal item de risco na saúde financeira da empresa, segundo as agências de rating.
A empresa declarou ter dívida líquida de R$ 262 bilhões, em novembro, que, com a desvalorização cambial, já estaria acima de R$ 360 bilhões. A pressão do dólar elevaria a alavancagem a 51%, segundo cálculos do CBIE, um nível histórico para a companhia. A taxa considerada adequada pela própria estatal seria de 35%.
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