• Pelo terceiro dia seguido, presidente volta a condenar movimentos que chama de tentativas de golpe
A presidente Dilma voltou a discursar ontem contra o que tem chamado de golpismo, numa referência indireta aos movimentos pró- impeachment. Na posse do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ela afirmou: “Queremos um país em que os políticos pleiteiem o poder por meio do voto e aceitem o veredicto das urnas.” O presidente do PSDB, Aécio Neves, reagiu à afirmação anterior da petista de que é golpismo usar a crise para chegar ao poder. “Golpe é usar dinheiro do crime ou de irresponsabilidade fiscal para obter votos”, disse o tucano. Pedido de impeachment da presidente foi protocolado na Câmara por Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT.
Presidente volta a defender seu mandato e ‘veredicto das urnas’
• Na posse de Janot, pelo 3º dia, petista faz alusão a momento político
Catarina Alencastro, Jailton de Carvalho, Gabriela Valente e Isabel Braga - O Globo
-BRASÍLIA- Pelo terceiro dia seguido, a presidente Dilma Rousseff mostrou preocupação com o avanço dos movimentos pró-impeachment e atacou o que classifica de golpe contra a democracia, em defesa de seu mandato. No discurso de posse do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que cumprirá um segundo mandato de dois anos, ela disse que todos querem um país onde “a lei é o limite”. A fala da presidente ocorreu no mesmo dia em que o pedido de impeachment de autoria do ex-deputado e jurista Hélio Bicudo, complementado pelo jurista Miguel Reale Junior, em nome da oposição, foi reapresentado ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
No discurso, Dilma afirmou que, na política, o poder só pode ser pleiteado durante as eleições, em referência indireta aos movimentos pró- impeachment contra ela:
— Queremos um país em que os políticos pleiteiem o poder por meio do voto e aceitem o veredicto das urnas. Em que os governantes se comportem rigorosamente segundo suas atribuições, sem ceder a excessos, em que os juízes julguem com liberdade e imparcialidade, sem pressões de qualquer natureza e desligado de paixões político-partidárias, jamais transigindo com a presunção da inocência de quaisquer cidadãos — afirmou Dilma.
Aécio: “vamos aguardar julgamento”
O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), reagiu às declarações de Dilma nos últimos dias, nas quais ela afirmou que a legitimidade do voto é a base da democracia e, fora disso, se trata de golpe. Ao chegar ao seminário tucano “Caminhos para o Brasil”, ele disse que o voto é legítimo, desde que tenha sido conquistado de forma legal.
Anteontem, Dilma criticara quem pretende encurtar a “rotatividade democrática”. Aécio lembrou que o Tribunal de Contas da União (TCU) avalia se ela descumpriu a Lei de Responsabilidade Fiscal com as “pedaladas fiscais” (operações de crédito irregulares).
— Golpe e atalho para se chegar ao poder é utilizar de dinheiro do crime ou de irresponsabilidade fiscal para obter votos. Vamos aguardar, portanto, que a presidente seja julgada, e, aí sim, nós poderemos falar em legitimidade do voto — afirmou Aécio.
Pedido de impeachment é entregue
Ladeados por líderes da oposição e alguns deputados de partidos da base aliada, Miguel Reale e Maria Lúcia Bicudo, filha de Hélio Bicudo, entregaram a Cunha informações adicionais ao pedido de impeachment feito pelo jurista, que já foi do PT. Também participaram do ato representantes de movimentos como o Nas Ruas, o Vem Pra Rua e o Movimento Brasil Livre, que pediram a Cunha pressa na análise.
— Nunca se pode pedir a um juiz o momento em que ele vai dar sua sentença. Não tenho prazo, mas é óbvio que não vou ficar a vida inteira para responder. Não o farei de forma leviana — avisou Cunha.
Reale disse que foram incluídos dados sobre as “pedaladas fiscais” e decretos do governo Dilma sem suplementação de recursos, o que demonstraria crime de responsabilidade. Segundo Reale, são fatos graves que ocorreram no primeiro mandato de Dilma e também no atual. Frisou que ele e Bicudo lutaram juntos contra a ditadura e estão novamente unidos contra o que chamou de “ditadura das propinas”:
— Eu e Bicudo somos lutadores antigos em prol dos direitos humanos. Lutamos juntos contra a ditadura dos fuzis, e agora lutamos contra a ditadura das propinas. A ditadura da propina é mais insidiosa que a dos fuzis porque corrói a democracia por dentro e precisa ser descoberta. O país está destroçado moralmente e financeiramente. Essas mudanças que gritam nas ruas agora entram neste pedido — disse Reale.
— Estou aqui representando meu pai. É preciso renovar. Vamos mudar este Brasil e trazer a integridade, a coerência e a ética de volta. Basta de mentiras — acrescentou Maria Lúcia.
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