A Executiva do PT aprovou resolução que apoia a volta da CPMF e outras medidas do ajuste, com a ressalva de que são impopulares.
PT apoia volta da CPMF e impede críticas ao pacote
• Executiva se nega a classificar ajuste de recessivo, mas lembra que medidas são impopulares
Sérgio Roxo, Simone Iglesias e Washington Luis - O Globo
-SÃO PAULO e BRASÍLIA- Apesar de defender novamente a reorientação da política econômica, o PT manifestou ontem apoio ao pacote de medidas anunciado na segunda-feira pelo governo. Resolução divulgada após reunião da Executiva do partido elogia a proposta de recriação da CPMF, e afirma que as medidas preservam os programas sociais. Apesar do apoio, no entanto, o partido se queixa da falta de diálogo na elaboração das medidas e também ressalta que os obstáculos da crise atual serão superados com a continuidade do projeto da legenda e não com “concessões a políticas antipopulares de austeridade”.
Durante a reunião, grupos minoritários da esquerda do PT chegaram a apresentar um texto com críticas diretas ao pacote. O documento dizia que o “conjunto de medidas não constitui uma resposta adequada aos reais problemas nacionais”, classificava o ajuste do governo de recessivo e defendia a adoção de “uma nova política econômica”, mas foi rejeitado por 11 votos a 4.
Ao mesmo tempo que mantém apoio ao governo, a resolução aprovada pela maioria da Executiva cobra do governo medidas complementares, como a taxação de grandes fortunas e heranças, além da adoção de programas de combate à sonegação. Também propõe a criação de uma linha de corte na cobrança da CPMF para que os mais pobres sejam poupados. A nota oficial critica ainda a forma como as medidas foram apresentadas. “Como em outras ocasiões, faltou ao governo diálogo prévio e comunicação mais eficiente, falhas que precisam ser sanadas através de interlocução permanente com a sociedade, sobretudo com os movimentos organizados”, afirma o texto.
Ao contrário da avaliação de movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o PT entende que prevaleceu no pacote do governo a “orientação de não sacrificar os programas sociais”. “Ao contrário do início do ano, quando o ajuste incidiu sobre direitos trabalhistas e previdenciários, desta vez a conta chegou ao chamado andar de cima, como, por exemplo, o aumento da alíquotas sobre capital próprio”, afirma a nota.
O partido também relata que, por meio de seu grupo de economistas, atuará para promover “uma reorientação da política econômica”. Em entrevista depois da reunião, o presidente do PT, Rui Falcão, evitou entrar polêmica sobre a possibilidade de o partido perder espaço na reforma ministerial da presidente Dilma, mas defendeu a permanência de Aloizio Mercadante na Casa Civil.
— As decisões sobre composição de ministério são prerrogativa da presidente da República. Acho que o ministro Mercadante vem cumprido as funções estritas da Casa Civil e nesse papel deveria ser mantido — disse Falcão.
Com dificuldade para conseguir apoio da sociedade e do Congresso para aprovar o pacote de ajuste fiscal, incluindo a recriação da CPMF, Dilma fez uma reunião com ao menos 12 ministros à tarde no Palácio da Alvorada, onde determinou uma “força-tarefa” pela aprovação do ajuste, segundo um participante. No começo da noite, ela recebeu o ex-presidente Lula para discutir as propostas que o governo apresentou segunda-feira e a reforma ministerial, a ser anunciada na próxima semana.
Antes, Lula se reuniu com parlamentares petistas. Ouviu dos correligionários que o clima é o pior possível, e há pouca chance de aprovação da CPMF. Segundo um desses parlamentares, Lula afirmou concordar com a essência do pacote. No entanto, demonstrou muita preocupação com o ânimo dos parlamentares. Lula manteve sua posição pela saída de Mercadante e sua substituição pelo ministro da Defesa, Jaques Wagner.
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