sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Uma ‘conquista’ da Lava-Jato

Cleide Carvalho e Renato Onofre - O Globo

-SÃO PAULO- O fim da doação de empresas a campanhas é determinado pelo STF justamente no momento em que a Operação Lava-Jato centra suas investigações no desvio de recursos do esquema de corrupção para financiamento político-partidário.

Ao investigar o cartel de empreiteiras que sangrou a Petrobras, a Lava-Jato descobriu uma sofisticada engrenagem de lavagem de dinheiro, dentro e fora do país, para abastecer partidos em proporções nunca antes vistas no cenário político brasileiro. Um esquema que, verificou-se depois, repassava propinas através do carimbo da legalidade das doações oficiais.

Delatores confessaram que até o caixa 1 estava contaminado. Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, afirmou:

— A maior balela que tem nesse Brasil é a doação oficial.

As licitações para obras públicas são superfaturadas. Só o coordenador do “Clube das empreiteiras”, Ricardo Pessoa, doou mais de R$ 20 milhões oficialmente ao PT em troca da manutenção dos seus contratos com o governo federal. Além de Pessoa, outros quatro delatores afirmaram ter usado o expediente para quitar débitos com políticos.

Nos últimos oito anos, as empresas investigadas — que doaram mais R$ 500 milhões nos cofres dos partidos nos últimos oito anos — desenvolveram um complexo de pagamento de propina ao PT e outros partidos. Em parte, via doação oficial.

Para os procuradores, as empreiteiras adotaram um modus operandi capaz de ser replicado com facilidade na esfera federal e em estados e municípios. Pelas denúncias já enviadas pelos procuradores à Justiça, cada partido tinha seu operador da propina. Proliferam Baianos, Youssefs, Camargos cada vez mais íntimos dos principais dirigentes e caciques partidários.

Operadores eram importantes por obter os recursos entregues a políticos que não querem deixar rastro. O esquema de doações eleitorais serviu para pagar “pixulecos” a políticos do PT e aliados. Terça-feira, o procurador da República Deltan Dallagnol afirmou que as investigações, agora, são sobre um “esquema montado para a manutenção de um projeto de poder”, e não só sobre a corrupção na Petrobras.

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