- Folha de S. Paulo
De duas semanas para cá, tenho lido e ouvido referências negativas ao Leblon, por um incidente envolvendo Chico Buarque e sujeitos embriagados que o interpelaram na rua por ser petista. Os comentários sugerem que o Leblon, por ficar perto do mar, dispor de bons restaurantes e ter um dos metros quadrados mais caros do país, é um antro de coxinhas, golpistas, reacionários, empresários, capitalistas, banqueiros, latifundiários e outros algozes do povo.
Tenho observado que esses comentários partem de pessoas que não frequentam o Leblon e talvez não o conheçam nem de vista. Se conhecessem, saberiam que se trata de um recanto amável e acolhedor como poucos. Deve ser –senão, no passado, Dorival Caymmi não o teria escolhido para criar seus filhos. E, anos depois, Paulo Mendes Campos, Antonio Callado e João Ubaldo Ribeiro não teriam se tornado alguns de seus mais queridos moradores.
Mas, para que não se diga que tudo no Leblon são flores, basta dizer que nele se organizou o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, em 1970 –foi de um supermercado seu vizinho no Leblon que Fernando Gabeira mandou a primeira mensagem comunicando a ação. O ateliê da estilista Zuzu Angel, assassinada pela ditadura em 1976, também ficava no Leblon. E o deputado Rubens Paiva foi levado de sua casa no Leblon para ser torturado e morto pelo Exército em 1971.
No Leblon, moraram Tom Jobim, Leila Diniz, Raul Seixas e muitos mais. E onde se reuniam Cazuza e sua turma nos anos 70 e 80? No Baixo Leblon. Mesmo hoje, muita gente acima de qualquer suspeita mora no Leblon. O escritor Rubem Fonseca. O ex-craque Paulo Cesar Caju. Os compositores e cantores Fagner, Alceu Valença, Zé Renato, Guinga, João Gilberto.
E como pode o Leblon ser coxinha se até o Chico Buarque mora nele?
Nenhum comentário:
Postar um comentário