• Derrotas do chavismo de Maduro, do kirchnerismo de Cristina e as turbulências que abalam Dilma e o lulopetismo marcam o fim de uma era no continente
Frustrada a tentativa de golpe em 1992, Hugo Chávez e sua retórica bolivariana exploraram com sucesso, sete anos depois, o caminho democrático do voto para chegar ao poder na Venezuela. Seria um dos marcos de um novo ciclo de nacional-populismo na América Latina. Onze anos depois, em 2003, assumiria em Brasília o petista Luiz Inácio Lula da Silva. Inicialmente, Lula, embora próximo do bolivarianismo no aspecto ideológico, manteve a política econômica “neoliberal” de FH, porque intuiu que era a única maneira de reequilibrar a economia brasileira, desestabilizada durante a campanha eleitoral pela reação defensiva dos mercados à possibilidade de o PT subir a rampa do Planalto.
Foi o que aconteceu. Lula conseguiu estabilizar a economia, mas começaria a cavar um fosso à frente do país, ao passar a seguir a desastrosa cartilha do populismo: dirigismo, gastança, descaso com a inflação, entre outras miopias.
Em 2003, chegou à Casa Rosada, em Buenos Aires, Néstor Kirchner, oriundo da esquerda peronista. Ele e Lula instituíram um eixo de apoio a Chávez e seguidores: principalmente a Evo Morales, na Bolívia, e a Rafael Correa, no Equador. No Uruguai, a Frente Ampla, de esquerda, elegeu sucessivamente Tabaré Vasques e, depois, José Mujica, sucedido por Vasques, mas nenhum deles com o ativismo exercitado por Lula, Néstor e depois Cristina, sua mulher, Chávez, Maduro etc.
O viés de políticas “desenvolvimentistas”, em nome do “povo”, sem maiores preocupações com equilíbrio fiscal e inflação, gerou, como sempre ocorre, uma espécie de bolha de crescimento e consequentes ganhos de renda, turbinados por programas sociais. No caso do Brasil, já existentes, mas ampliados pelo PT.
Argentina, Venezuela e Brasil, cada um com suas características, viveram a mesma euforia, traduzida em votos para a reeleição de Lula, eleição de Dilma, de Cristina K. e no apoio a Maduro.
Exportadores de commodities, todos se beneficiaram com as elevadas cotações dos alimentos, minérios e petróleo, puxadas principalmente pela expansão chinesa. Com o desaquecimento chinês, os preços desinflaram, e as distorções que estavam encobertas emergiram. No caso do Brasil, a bagunça fiscal. Não se aproveitou o bom tempo para sanear as contas públicas. Pelo contrário.
Não por coincidência, começam a ocorrer, em sequência, trocas de guarda no continente: depois de 12 anos de poder, o kirchnerismo, na pessoa de Daniel Scioli, candidato de Cristina K., perdeu as eleições presidenciais para um não peronista, Maurício Macri; enquanto na Venezuela, apesar de toda a manipulação e coerção, o chavismo de Maduro perdeu o controle da Assembleia Nacional para ampla aliança das oposições, algo inimaginável há poucos anos. No Brasil, a representante do lulopetismo, Dilma Rousseff, enfrenta um pedido de impeachment e o país está em grave recessão, com todas as consequências sociais amplificadas por uma inflação elevada. Confirma o esgotamento do ciclo populista.
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