Governadores criaram um grupo permanente de discussão com o governo federal. Pode ser que dos debates surjam iniciativas sérias para atenuar a crise. Foi justamente a penúria o que levou líderes estaduais a criar um raro movimento unificado de reivindicações.
Também nesta semana, o PT publicou documento no qual advoga mudanças na política econômica. Trata-se de crítica prévia aos novos ministros da Fazenda e do Planejamento, sobretudo para galvanizar a militância.
O partido da presidente Dilma Rousseff reivindica um plano de retomada imediata do crescimento, em parte baseado nos pressupostos que lançaram o país nesta recessão. São noções compartilhadas por organizações de esquerda.
Tais pressões ocorrem quando se toma conhecimento de deficit ainda maior da administração federal. A carência de recursos, que prosseguirá em 2016, tende a privar o governo de meios para angariar apoio, com o que se reduz a probabilidade de aprovar medidas de contenção da crise e mesmo remendos tributários, como a CPMF.
Estimativas indicam que o governo não será capaz nem de produzir o superavit primário prometido, equivalente a 0,5% do PIB –valor de resto já insuficiente para conter a escalada da dívida pública, um dos principais motivos da presente degradação econômica.
Em suma, a presidente terá de se mover entre as necessidades impostas pela falta de dinheiro e o risco fatal de perder sua base política. Assim imprensada, precisa aprovar o resto do ajuste das contas públicas no Congresso, fazer andar um plano de reformas –incluindo a da Previdência– e se proteger de ofensivas da oposição.
Caso vingue o novo calendário do impeachment, a abertura do processo será votada em abril. Até lá, pelo menos, parece difícil que a elite política se ocupe de mudanças de interesse do país.
Poderia ser de outro modo, talvez, caso a presidente se engajasse em um projeto ambicioso de relançar seu governo e promover amplo diálogo nacional. Não parece ser a convicção de Dilma Rousseff.
Assim, 2016 tende a começar sob tensão renovada. Governos de cofres vazios, uma população assolada por ainda mais desemprego e menos renda, movimentos sociais indóceis e inimigos no Congresso devem limitar muito o campo de manobra política da presidente.
Com boa sorte e ao menos alguma sabedoria, aprovará e implementará medidas de manutenção da governança, que têm sido chamadas de "arroz com feijão": uma política econômica que contenha nova aceleração da crise. É muito pouco para um país que completará um triênio de regressão.
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