Por Denise Neumann - Valor Econômico
SÃO PAULO - Nas contas do Comitê de datação de Ciclos Econômicos (Codace), do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), o Brasil entrou em recessão no segundo trimestre do ano passado. A atual recessão, por essa metodologia, já dura seis trimestres. Ainda não é a mais longa da história, mas caminha para ser a mais duradoura e a pior delas.
O Codace mapeou os ciclos de negócios (expansão e recessão) desde o início dos anos 80 e encontrou oito períodos de retração da atividade. O pior deles foi no começo dos anos 80. Do primeiro trimestre de 1981 até o primeiro trimestre de 1983, a economia brasileira encolheu 8,5% ao longo de nove trimestres.
A recessão mais longa mapeada pelo Codace durou 11 trimestres e foi do terceiro trimestre de 1989 até o primeiro trimestre de 1992. No meio dele, esteve a pior contração do Produto Interno Bruto (PIB) de um único ano, a queda de 4,25% em 1990, no confisco do primeiro ano do governo do então presidente Fernando Collor de Mello, contra quem posteriormente foi aberto um processo de impeachment. Ao longo daqueles 11 trimestres, entre o pico anterior e o vale, que representa o começo da recuperação econômica, o PIB recuou 7,7%.
Nas oito recessões identificadas pelo Codace, a mais recente é a do estouro da crise internacional em 2008. Foi uma recessão curta. Entre o pico (terceiro trimestre daquele ano) e o vale (primeiro trimestre de 2009) foram dois trimestres. A queda, contudo, foi forte: 6,2%.
A recessão atual já dura - pela metodologia do Codace - seis trimestres, ao longo dos quais a economia já se contraiu 5,8%, considerando o pico (primeiro trimestre de 2014) e o terceiro trimestre deste ano. A questão é que este trimestre não parece nem um pouco com o vale do atual período recessivo. A crise atual é reforçada pela crise política, mas ela é fruto do esgotamento de um modelo que abusou da âncora do consumo das famílias. Além do componente da demanda (afetada por falta de crédito, aumento do desemprego e queda da renda) ela traz um forte recuo do investimento e a ausência de confiança tanto dos consumidores como dos empresários dos mais diversos setores. Esses dois componentes, juntos, reduzem ainda mais a perspectiva de uma recuperação da economia.
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