Os últimos dias têm fornecido estatísticas que refletem a evolução da que deverá ser a mais grave recessão desde o fim da ditadura militar, em 1985 — e em meio a uma crise fiscal estrondosa. O IBGE confirmou ontem que o país, no terceiro trimestre, se manteve em recessão — iniciou o ano assim, passará o réveillon deste jeito e as previsões mais otimistas apostam que a mudança de sinal virá apenas no final de 2016.
No período de julho a setembro, em relação aos três meses anteriores, o PIB retrocedeu 1,7%. Se a base de comparação forem os mesmos meses de 2014, a queda se amplia para 4,5%. Já é o mais longo ciclo de retração desde pelo menos Collor, quando o “sequestro” da poupança paralisou o país. Todos os setores encolheram no trimestre, menos o “consumo do governo”, sintomático e coerente com o quadro de desarranjo fiscal, o motor propulsor de toda a crise, diante da qual governo e Congresso não conseguem reagir como é preciso.
Na segunda-feira, foram divulgadas informações sobre as contas públicas de outubro, também superlativas: alguns números são os piores das respectivas séries históricas. Por exemplo, o déficit nominal — inclui as despesas com juros da dívida — atingiu, de janeiro a outubro, R$ 547,8 bilhões, ou 9,5% do PIB, pouco mais de três vezes o limite prudencial usado na União Europeia, superior aos 6% verificados na Argentina, cuja economia está em frangalhos após mais de década de populismo kirchnerista.
Assim, o peso da dívida pública no PIB passou, em um ano, de 55% para 66,1%, e se aproxima de forma perigosa dos 70% — este é um índice acompanhado com especial atenção pelas agências internacionais de classificação de risco de crédito. Mas governo e Congresso não fazem andar de forma consistente o ajuste fiscal, única forma de estancar a hemorragia e começar a restabelecer alguma confiança no futuro, para reativar investimentos e, em decorrência, o emprego e o consumo.
Como não conseguem, a recessão se aprofunda, e a inflação, já em dois dígitos, avança. A economia está em queda livre num vácuo, e numa época do ano de expansão em tempos normais.
Os dados das contas públicas são estridentes: se déficit público garantisse, hoje, a retomada do crescimento, o Brasil estaria nas nuvens. Mas ainda há quem no PT e no próprio governo acredite nessa mágica. Ora, ela já não funcionou.
O desemprego está em inexorável alta (9%), e as conquistas sociais dos governos FH, Lula e Dilma 1 começam a ser perdidas. A própria Pnad-2014, do IBGE, já havia detectado o aumento de 16% no trabalho infantil, e o crescimento de 13,6% para 15% da taxa de desemprego entre jovens de 18 e 24 anos. Enquanto a inflação corta o sonho de ascensão dos mais pobres.
Brasília deveria se dedicar a um momento de reflexão sobre alguns desses números, para enfim acordar e ver a gravidade do cenário.
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