Raymundo Costa – Valor Econômico
|BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff sofreu um novo revés no PMDB, com a decisão da bancada mineira do partido de não respaldar a indicação do deputado Mauro Lopes para a Secretaria de Aviação Civil (SAC). Lopes pode aceitar um eventual convite da presidente, em caráter pessoal, mas não como representante da bancada. Estava previsto para ontem uma reunião da presidente Dilma Rousseff com o vice-presidente Michel Temer, que acabou sendo reagendada para amanhã.
A bancada mineira, que é a segunda maior do partido, vindo logo após a representação do Rio de Janeiro, também liberou seus oito deputados na disputa pela função de líder na Câmara. O atual líder, deputado Leonardo Picciani (RJ), tenta ser reconduzido com o apoio explícito do governo federal. A SAC foi oferecida aos mineiros numa tentativa de cooptação da bancada mineira à candidatura de Picciani. O deputado Leonardo Quintão (MG) anunciou disposição de concorrer contra o atual líder.
Com o impeachment subjudice, a popularidade da presidente em baixa e a perspectiva de o PT ser amplamente derrotado nas eleições de outubro, o PMDB tenta se posicionar em relação à aliança que tem com o governo. O assunto será tema da convenção partidária marcada para março, muito embora o simples rompimento não faça parte do horizonte próximo da sigla.
A decisão da bancada mineira em relação à SAC não deixa de ser uma forma de descolamento. A avaliação da cúpula partidária é que, se o PMDB se mantiver muito próximo ao PT, terá a mesma sorte que o aliado nas eleições municipais. A força do PMDB reside justamente na capilaridade do partido, que tem o maior número de prefeitos em todo o país. O fim da aliança PT-PMDB é considerado inevitável para 2018.
A recusa da SAC pela bancada mineira também mostra que o uso de cargos pelo governo em troca de apoio no Congresso é uma fórmula que está se esgotando. Ano passado os mineiros haviam rejeitado o mesmo cargo. Na reunião da bancada, Mauro Lopes teve de responder a questionamentos sobre um ex-diretor da Petrobras, Jorge Zelada - apanhado na Operação Lava-Jato -, que teria sido indicado justamente quando o deputado era o coordenador da bancada.
Os percalços da presidente Dilma com o PMDB, no entanto, não significam necessariamente que o impeachment da presidente será retomado com a força que teve durante algum tempo, em 2015. O afastamento da presidente da República só voltará com força à agenda dos pemedebistas se houver manifestação das ruas ou ocorrer algum fato novo, como o envolvimento comprovado de Dilma nas irregularidades investigadas na Petrobras.
O encontro de Dilma com Temer estava na pré-agenda da presidente da última segunda-feira. A possibilidade da reunião fora sugerida pelo ministro Jaques Wagner (Casa Civil), uma semana antes, em conversa com o vice-presidente. O Palácio do Planalto confirmou o encontro no fim da tarde de ontem. A reunião é mais uma tentativa do chefe da Casa Civil de distensionar a relação da presidente com seu vice, que esfriou desde que o processo de impeachment foi deflagrado na Câmara dos Deputados.
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