- Folha de S. Paulo
Em tempos bicudos, tradições podem ser quebradas, dando lugar a ações inusitadas. Alexandre Tombini resolveu fazer esse movimento ontem sem sutilezas.
Uma hora depois de o FMI divulgar relatório com projeções lastimáveis –mas óbvias– sobre o desempenho da economia brasileira, o presidente do Banco Central dilmista publicou um "comentário" sobre as contas feitas em Washington.
A decisão já valeria um debate sobre sua (ir)relevância, mas ganhou ainda mais destaque por acontecer no dia em que a diretoria do BC começaria, horas mais tarde, sua primeira reunião de 2016 para definir se dará mais uma paulada no juro.
Existe uma regra de ouro, definida e seguida pelo próprio Banco Central, que determina silêncio dos diretores às vésperas desses encontros.
Tombini resolveu deixar de lado a tradição e gritar, para todo mundo ouvir, que as coisas podem seguir um caminho diferente do que ele mesmo e seus colegas de diretoria vinham sugerindo há semanas.
Pelas contas do FMI, o Brasil vai amargar um tombo de 3,5% neste ano, ficará estagnado no próximo e só voltará a crescer em 2018. O presidente do BC avaliou como "significativas" as estimativas e achou, por bem, explicar que esse tipo de informação "relevante" é analisada na hora de definir para onde vai o juro.
A reação do mercado financeiro foi imediata. No lugar de uma alta mais forte da Selic, passou a estimar um avanço mais suave ou até a manutenção da taxa no atual patamar.
As críticas também vieram a jato. Depois de toda reclamação do PT e de parte do governo sobre o que vinha sendo dito, a indicação de mudança de rumo jogou por terra o resto de credibilidade detida por Tombini.
Subir o juro como era indicado garantiria ao presidente do BC a pecha de amigo da recessão. Se a decisão desta quarta-feira seguir o "novo caminho", Tombini consolidará a imagem de leniente com a inflação e sem controle sobre sua própria cadeira.
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