domingo, 24 de janeiro de 2016

Herdeiros de caciques do PMDB se destacam no cenário político

• Filhos de Picciani e Jader Barbalho, entre outros, renovam o partido

Leticia Fernandes - O Globo

BRASÍLIA - Com seu DNA marcado pela forte presença de lideranças regionais, como o ex-presidente José Sarney (AP), e o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o PMDB vem se tornando também a morada de jovens em destaque no cenário político atual. A particularidade deles é que, quase sempre, são herdeiros de caciques do partido, muitos fazendo política junto com os pais. As famílias Cabral, Picciani, Cardoso e Barbalho são alguns exemplos de pais e filhos atuando juntos no PMDB.

O deputado Leonardo Picciani, hoje líder do PMDB na Câmara, tinha 10 anos em 1989 quando pediu à mãe para distribuir panfletos da campanha de Ulysses Guimarães, então candidato do PMDB à Presidência. Toda a família, inclusive seu pai, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani, fez campanha para o pedetista Leonel Brizola naquele ano.

— Sempre tive vidração (sic) grande pelo PMDB, tanto que é o único partido ao qual me filiei e disputei eleições. O PMDB facilita a militância porque dá legenda, permite que os jovens sejam candidatos, não só os com pais no partido. Tem essa característica de muita divergência, mas respeito pelos posicionamentos.

Jorge Picciani conta que não gostou quando ouviu do filho, quase formado em Direito, que queria ser deputado federal:

— Eu não queria meus filhos na política, mas foi impossível segurar. O pessoal mais próximo de mim se entusiasmou, dizendo que era bom renovar ou viria alguém para me derrotar, e ele representou um ânimo novo. Abri mão de redutos eleitorais para outros deputados estaduais apoiarem ele, o que dificultou a minha eleição. Na reta final da 1ª campanha, ele era parado na rua para dar autógrafo e eu disse: ‘você vai andar comigo e ajudar o seu pai, vai puxar o velho’.

Filho do ex- governador de Minas Gerais Newton Cardoso, o deputado de 1 º mandato Newton Cardoso Júnior cresceu brincando de carrinho entre as pernas de figurões da política mineira e olhando para uma foto de seu aniversário de 2 anos, esparramado no colo de Tancredo Neves e Magalhães Pinto. Convocado a entrar na política para continuar o legado do pai, ele disse que nunca tinha tido interesse em enveredar por esse caminho.

— Foi convencimento, não tinha interesse, mas entendi que continuar o legado faria bem para a família — afirmou, negando ser simplesmente um herdeiro do pai: — É um fenômeno mundial essa herança. Mas não basta ser filho de alguém, tem que gastar sola de sapato.

O 1º contato com a política do ministro dos Portos Hélder Barbalho foi em 1982, quando, aos 2 anos, foi à posse do pai, o hoje senador Jader Barbalho, eleito governador do Pará. O senador conta que foi apenas comunicado das pretensões do filho:

— Não servi de muleta e nem ele pediu licença. Até achava que devia trilhar mares mais tranquilos, mas nunca impedi.

Em 1998, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, em campanha para deputado estadual, perguntou ao filho de 7 anos que banda escolher para um showmício. Marco Antônio Cabral, hoje secretário estadual de Esporte do governo Luiz Fernando Pezão, sugeriu: “Chama o Katinguelê”, referindo-se à banda de pagode que fazia sucesso. Cabral acatou.

— Ele me levou e gostei. Sempre admirei o trabalho dele e isso me impulsionou. E tive o prazer de crescer convivendo com (Francisco) Dornelles (vice-governador do Rio), meu tio por parte de mãe, conheci Lula, Fernando Henrique, Eduardo Paes e pude ouvir ensinamentos.

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