- Folha de S. Paulo
Se não surgirem novas surpresas de última hora, dentro de algumas horas Dilma Rousseff deve ser afastada temporariamente do cargo de presidente da República. As chances de que seja absolvida pelo Senado e volte são remotas. Será o segundo impeachment presidencial no Brasil em um quarto de século e porá fim a um ciclo de 13 anos de governos petistas.
Dilma cai por causa de sua própria incompetência. Investiu numa política econômica errada e, quando percebeu que ela não produziria os efeitos esperados, em vez de recuar e tentar reparar os danos, resolveu dobrar a aposta com o objetivo de vencer o pleito de 2014. Perpetrou, assim, o maior estelionato eleitoral da história recente do país.
Acreditou que, reeleita, teria condições de arrumar a casa, mas não foi o que aconteceu. As mentiras da campanha criaram um ambiente tóxico. Quando ela tentou a saída pela ortodoxia econômica, foi boicotada pelo próprio PT e não pôde contar com o apoio dos partidos ideologicamente identificados com as propostas do ex-ministro Joaquim Levy. Depois, esboçou uma guinada à esquerda, mas já era tarde. Seu governo, desgastado pela pior recessão da história do país e a cada dia mais impopular, caíra em total descrédito.
O noticiário policial, que revelou a participação de petistas graúdos em esquemas permanentes de corrupção, tirou do PT até o discurso moral pelo qual se notabilizara em seus primórdios. O partido que não roubava nem deixava roubar havia se convertido numa franquia da propina.
A tripla crise —política, econômica e ética— acabou selando o destino de Dilma, que não conseguiu mobilizar nem sequer 1/3 dos deputados para salvar seu mandato.
O PT deverá receber agora um longo gelo do eleitor, mas espera-se que sobreviva, faça a autocrítica e se reerga em bases melhores. O Brasil, como toda democracia, precisa de um partido de massas mais à esquerda.
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