As recentes operações da Lava-Jato e dela derivadas, “Custo Brasil” e “Abismo” (realizadas dias depois de o STF devolver à força-tarefa de Curitiba e encaminhar ao Ministério Público de Brasília as investigações sobre o ex-presidente Lula) ampliaram o isolamento político e o desgaste social do PT e de seu chefe. Esse coquetel vai estreitando, ainda mais, as perspectivas do partido nas eleições municipais deste ano, já levando-o à desistência de candidaturas próprias em várias regiões do país, sobretudo em cidades de maior porte. O que está pondo em xeque também o plano do uso dessas eleições para a montagem de uma “Frente Brasil Popular” que aglutinaria os “movimentos sociais” esquerdistas para o “Volta Lula” em 2018. Plano centrado na liderança por ele de agressiva manipulação das resistências corporativas às “reformas antipovo” do “governo golpista de Temer”.
A erosão – que tende a acentuar-se com mais desdobramentos das referidas investigações e possível prisão do próprio Lula – vai reforçando os projetos de partidos mais à esquerda, como o PSOL, bem como os do PDT de Ciro Gomes e da Rede Sustentabilidade de Marina Silva, voltados para arrebanhar quadros e parcelas do tradicional eleitorado petista. Seja atraindo os decepcionados com as práticas de corrupção, seja trabalhando a “inviabilidade” de mais uma candidatura de Lula. Projetos (centrífugos) que, após o pleito municipal (e seus prováveis resultados muito ruins para o PT) serão encaminhados, de par com o desencadeamento da luta entre várias das correntes internas por novo comando para o partido.
As concessões e as “medidas amargas” de Temer
A combinação da profundidade e da extensão da crise fiscal com a dependência de Michel Temer do fecho do processo de impeachment de Dilma Rousseff (que ela não tem condições de reverter, mas prolonga o máximo possível) compeliu o presidente interino a render-se à aprovação na Câmara e no Senado de amplo reajuste de vencimentos do funcionalismo, incluído o do Judiciário com efeito cascata nos estados e municípios; a antecipar um aumento, além da inflação, para o Bolsa Família; e a trocar o alongamento, imediato, da quitação das dívidas dos estados pelas promessas dos governadores de apoiarem a PEC do teto dos gastos públicos e de o aplicarem eles também, após a aprovação nas duas casas do Congresso. Cabendo assinalar que os ingredientes negativos dessa combinação foram reforçados pela fragilidade do novo governo com o denso envolvimento de grande parte dos dirigentes do PMDB nas investigações da Lava-Jato e paralelas.
O imperativo político de tais concessões – feitas num contexto em que o preparo da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2017 está tendo que prever um déficit primário de dimensão próxima ao deste ano, e só aceitas por parlamentares do PSDB, DEM e PPS após forte questionamento – levou Michel Temer ao empenho de compensar logo em seguida suas repercussões bastante negativas. Por meio de enfáticas garantias de que, tão logo concluído o impeachment, serão tomadas “medidas amargas” para o controle dos gastos públicos, articuladas com ações decididas em torno da agenda reformista da equipe econômica e o desencadeamento dos projetos de privatização e de parcerias público-privadas nas áreas de infraestrutura. Garantias que mantêm a aposta do conjunto do mercado no governo definitivo de Michel Temer.
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Jarbas de Holanda é jornalista
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