- O Estado de S. Paulo
Renunciar ele não vai. Nem ela. Restaria, assim, só a cassação da chapa Dilma/Temer pela Justiça para que houvesse nova eleição – a preferência da maioria absoluta da população, segundo todas as pesquisas. Apesar de reiterados indícios de irregularidades no financiamento e na prestação de contas da campanha eleitoral da dupla em 2014, não parece que o processo andará no Tribunal Superior Eleitoral este ano. Sobra, portanto, a hipótese de um presidente biônico eleito por um redivivo colégio eleitoral.
Como se sabe, se o cargo ficar vago depois de ultrapassada a metade do mandato presidencial, cabe a um mistão de deputados e senadores escolher o novo presidente. É um sonho para os congressistas, capaz de umedecer o mais árido dos invernos brasilienses. Se para manter Michel Temer no poder eles já conseguiram nomear quase todo o Ministério, com os respectivos cargos de segundo e terceiro escalão, imagine-se quais façanhas não alcançariam se pudessem renegociar seus votos com o biônico?
Seria o parlamentarismo de fato, pouco importa o direito. A farra de nomeações, emendas ao Orçamento e indicações de fornecedores bateria recordes olímpicos – um salto triplo na contabilidade política e eleitoral de deputados e senadores. Seria também um tiro ao alvo mortal para as medidas de combate à corrupção, como a criminalização do caixa 2, a responsabilização dos partidos políticos por seus malfeitos e o confisco da grana proveniente dessas atividades ilícitas.
Por ora, é apenas o sonho de uma noite de inverno brasiliense. O TSE não demonstra pressa em julgar as contas da chapa Dilma/Temer. O mercado financeiro torce e trabalha pelo futuro ex-vice, junto com boa parte do empresariado. Tem Olimpíada, julgamento do impeachment de Dilma Rousseff no Senado e eleição municipal a congestionar o calendário. O colégio eleitoral não está nem sequer em pauta. Mas pode vir a estar.
Vai depender, como sempre, da economia – e de seus obscuros ou brilhantes reflexos na popularidade do presidente. Decepção ou satisfação do público são resultantes opostas de uma mesma conta: realização menos expectativa. Quanto mais se espera de um governante, mais difícil é para ele atender às demandas da população e alcançar um saldo positivo na equação da popularidade. É o que acontece com a maioria dos eleitos.
A disputa eleitoral eleva a esperança e aumenta a cobrança sobre o vencedor. Mas, quando o presidente é um vice que muita gente nem sequer sabia o nome, a expectativa é baixa. A maioria não sabe bem o que esperar, o que acaba se transformando em um período de “deixa estar para ver como é que fica”.
É o que aconteceu com Temer: a desinformação produziu baixa expectativa, o que garantiu um período de carência para o presidente interino. Por menos que faz, dificilmente fica aquém do que se espera dele – já que não se esperava nada. É o contrário do que ocorreu com Dilma, cujo eleitorado esperava tudo, menos o que ela tentou fazer depois de reeleita.
Há sinais, todavia, de que a carência de Temer pode estar vencendo. A pesquisa de julho do instituto Ipsos sobre o desempenho do interino mostrou um crescimento de 43% para 48% na taxa de ruim e péssimo, em comparação ao mês anterior. O aumento se deu às custas da queda do “não sabe e não respondeu”. Também houve queda no apoio ao impeachment de Dilma, de 54% para 48%.
São poucos pontos porcentuais de diferença e poucas pesquisas para se fazer projeções. É preciso pelo menos quatro pontos na curva, com oscilações sempre na mesma direção, para caracterizar uma tendência. Ou seja: só em setembro vai se tirar a prova. Até lá, já terão passado Olimpíada e impeachment. Temer não terá mais desculpas para deixar de entregar resultados. O TSE poderá, então, se ver apressado. E os congressistas? Sonhando molhado.
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