Por Estevão Taiar e Fernando Taquari – Valor Econômico
SÃO PAULO - O Rede Sustentabilidade faz sua estreia em eleições com Marina Silva fora da disputa, mas com a expectativa de que ela possa atuar intensamente nos palanques. Dona de 22 milhões de votos na última eleição presidencial, a ex-senadora trabalha para compartilhar parte do seu capital político com os correligionários que concorrerão neste ano em uma estratégia que tem o objetivo de fortalecer a sigla de olho na disputa pelo Planalto em 2018.
"A participação dela na minha campanha será total", diz Ricardo Young, vereador e candidato à Prefeitura de São Paulo. "Temos o privilégio de ter uma grande liderança nacional. Marina vai participar ativamente das campanhas do Rede pelo país e isso é um grande trunfo para nós candidatos", complementa o deputado estadual Paulo Lamac, candidato a prefeito de Belo Horizonte (MG).
Na última pesquisa Datafolha para a eleição presidencial de 2018, Marina ficou em segundo lugar. Teve 17% das preferências, cinco pontos percentuais atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e três à frente do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Oficialmente, no entanto, o partido nega que tenha planos mais ambiciosos do que se fortalecer e preparar o terreno para eleição presidencial.
"O esforço todo deste momento é para criarmos uma identidade. Não estamos antecipando 2018", diz Bazileu Margarido, coordenador-executivo do Rede. "Mas ela já tem contribuído com as campanhas e a participação dela vai se intensificar ainda mais", acrescentou o dirigente. Os próprios candidatos também procuram dissociar as duas eleições para não ampliar a pressão sobre Marina.
"O desempenho do Rede neste ano não é definidor do futuro de Marina. O partido não deve se preocupar neste momento em ser do tamanho dela. Agora, tudo que fizermos neste eleição soma a ela", afirma Lamac, que inspirado na ex-senadora e nas propostas "progressistas" do Rede deixou o PT no fim de 2015 para se filiar na legenda.
Embora o Rede faça questão de divulgar a sua estrutura horizontal, na prática, Marina é a líder e a figura pública do partido. Desde o começo de junho, dois meses e meio antes do início oficial da campanha, ela visitou pré-candidatos ou diretórios em oito Estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Acre, Rio Grande do Norte, Maranhão, Pará e Rio Grande do Sul. Hoje, a ex-senadora estará presente na convenção que oficializa o nome de Young na capital paulista.
Apesar do capital político de Marina, os candidatos do Rede enfrentam um desafio adicional em sua estreia em eleições: o pouco tempo de TV e a rigidez na hora de estabelecer alianças. As restrições, contudo, são bem vistas por alguns dos postulantes. Lamac, por exemplo, argumenta que o menor tempo no horário eleitoral gratuito reduzirá os gastos com propaganda em uma campanha em que as doações privadas estão proibidas.
"Não tenho porque me preocupar com as novas regras eleitorais. Com pouco tempo de TV, não vamos gastar rios de dinheiro com propaganda. Faremos uma campanha pé no chão. Vamos apostar nas ruas e nas mídias digitais", afirma o pré-candidato.
A tendência é que o Rede tenha entre 12 e 15 candidatos a prefeito nas capitais, inclusive, nos maiores colégios eleitorais. Além de Young em São Paulo e Lamac em Belo Horizonte, a sigla terá o deputado federal Alessandro Molon na disputa no Rio e ainda busca um nome em Salvador (BA). No Recife (PE) vai apoiar a reeleição do prefeito Geraldo Julio (PSB).
O PSB, aliás, deve ser junto com o PPS o principal aliado do Rede onde o partido não tiver candidatura própria. Curiosamente, na sigla comandada por uma mulher, só deve haver uma candidata à prefeita nas capitais: a jornalista Ursula Vidal, em Belém (PA).
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