• Presidente afastada garante que marqueteiro tratou direto com tesouraria do partido
Cristiane Jungblut – O Globo
BRASÍLIA - A presidente afastada Dilma Rousseff disse nesta quarta-feira que não está "cansada" e que lutará até o fim para evitar a aprovação do impeachment pelo Senado, cuja votação está prevista para o final de agosto. Em entrevista à “Rádio Educadora”, de Uberlândia (MG), Dilma ainda disse que repassou ao PT a responsabilidade pelos pagamentos feitos ao ex-marqueteiro João Santana, investigado na Operação Lava-Jato. Ela disse que o próprio João Santana afirmou ter tratado dos pagamentos com a tesouraria do PT, e não com seu comitê de campanha.
Na semana passada, um dia depois de Santana admitir em depoimento ao juiz Sérgio Moro ter recebido US$ 4,5 milhões por meio de caixa dois no exterior para saldar uma dívida de campanha de Dilma Rousseff em 2010, a presidente afastada adotou tom cauteloso e negou ter autorizado ou saber da existência do caixa dois, mas não descartou que ele tenha existido, como fizera em outras oportunidades. Depois, em nova entrevista, mudou a versão sobre o caixa dois na campanha.
— Se ele recebeu os US$ 4,5 milhões que diz que recebeu não foi da organização da minha campanha. Porque ele diz que recebeu isso em 2013. Como você sabe, a campanha começa em 2010 e, até o final do ano, ela é encerrada. A partir do momento em que ela é encerrada, tudo que ficou pendente de pagamento da campanha passa a ser responsabilidade do partido. A minha campanha não tem a menor responsabilidade sobre em que condições pagou-se a dívida remanescente de 2010. Não é a mim que tem que perguntar isso. Com quem ele tratou isso foi com a tesouraria do PT, como disse o próprio Santana — disse Dilma, na entrevista.
‘Só acaba quando termina’
Dilma negou qualquer intenção de renunciar e garantiu que sua defesa será apresentada no prazo - que encerra nesta quinta-feira - na comissão especial do impeachment. Ela comparou o processo a uma partida de futebol.
— Não estou cansada. Estou plenamente disposta a lutar até o último minuto pelos meus direitos. Tudo bem que me escondam. Não apareço em jornais nacionais há muito tempo. Fui cassada, como se diz, da TV. Tenho uma meta: lutarei até o fim para impedir que esse impeachment ocorra — disse Dilma, enfática.
Dilma disse que haverá uma guerra de informações até o final.
— Quanto mais próximo chegarmos desse dia, teremos uma guerra de informações. Só no dia saberemos o que realmente vai acontecer. É como uma partida de futebol, a gente joga até o fim da partida e ganha, e ganha e ganha. Isso tem que ser um bom jogador. E, nesse caso, lutar até o fim para ganhar — disse Dilma, fazendo uma metáfora sobre futebol.
Dilma disse que não tem se encontrado com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mas que tem conversado com senadores:
— O site do Senado saiu do ar e algumas coisas eram fundamentais. Vamos fazer esforço para cumpri-lo. Isso não acredito que isso tenha consequência maior. Nossa defesa está praticamente pronta.
"Fundamentos da economia são do meu governo"
Dilma ainda reagiu às interpretações de que sua saída do governo melhorou o humor na economia.
— Como podem os fundamentos da economia melhorarem devido a dois meses apenas? Todos os fundamentos da economia estão dados pelo meu governo. Em dois meses ninguém recupera nada. Havia uma sistemática tentativa de criar mau humor na economia, porque todo o dia iria cair o mundo na nossa cabeça — disse ela.
E disse que participará das eleições municipais, se for chamada:
— Se for convidada, não tenho problema em apoiar forças progressistas .
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