Por Cristian Klein – Valor Econômico
RIO - Vinte anos depois da disputa que ficou conhecida como a "eleição dos postes" - com a vitória de apadrinhados como Celso Pitta, eleito por Paulo Maluf em São Paulo; Luiz Paulo Conde, candidato de Cesar Maia no Rio, e Cássio Taniguchi, apoiado por Rafael Greca em Curitiba - a corrida municipal nas capitais está oferecendo obstáculos para a ascensão de criaturas políticas pouco conhecidas da maioria da população, de acordo com as últimas pesquisas eleitorais.
Nos quatro grandes centros onde há um apadrinhado do prefeito - Rio de Janeiro, com Pedro Paulo (PMDB); Porto Alegre, com Sebastião Melo (PMDB); Belo Horizonte, com Délio Malheiros (PSD), e Goiânia, com Adriana Accorsi (PT) - os pretendidos sucessores encontram dificuldade para repetir histórias de sucesso eleitoral que já catapultaram, em outros níveis de governo, a petista Dilma Rousseff à Presidência e o pemedebista Luiz Fernando Pezão ao governo do Estado do Rio.
Os casos chamam mais atenção pois os "criadores" dos candidatos nestas capitais foram prefeitos que tiveram muita facilidade para se reeleger há quatro anos - todos no primeiro turno.
No Rio, o pemedebista Eduardo Paes conseguiu renovar seu mandato em 2012 com 64,6% dos votos; mais que o dobro do principal concorrente, Marcelo Freixo (Psol), 28,15%. No entanto, seu candidato, o deputado federal Pedro Paulo, aparece com 8% das preferências pelo Datafolha divulgado na sexta-feira, numa briga de foice com mais quatro concorrentes, tecnicamente empatados em segundo lugar.
Pode-se argumentar que a tendência é de crescimento. Candidatos desconhecidos da máquina administrativa costumam sair de um piso baixo e decolar quando o eleitor passa a vê-lo na propaganda eleitoral e associá-lo a um governo bem ou razoavelmente avaliado. Pelo menos dois fatores, porém, atrapalham esse roteiro clássico, que pode levar à vitória. Em primeiro lugar, por causa das novas regras eleitorais, a campanha deste ano ficou mais curta, conta com menos recursos e tem demorado a engrenar com as atenções que se voltaram para o impeachment de Dilma, depois para a Olimpíada e agora a Paralimpíada. Em segundo lugar, Pedro Paulo, apesar de ser pouco conhecido, já registra a maior taxa de rejeição (28%), seguido de Bolsonaro (27%), Jandira (23%) e Crivella (22%). Pesa contra ele o fato de ter vindo à tona uma briga com a ex-mulher, em 2010. O caso, embora arquivado pelo Supremo Tribunal Federal, prejudica a construção de sua imagem.
Porto Alegre é a exceção, onde o candidato do prefeito José Fortunati - o vice Sebastião Melo (PMDB) - tem cumprido o roteiro para o erguimento do "poste", apesar dos obstáculos deste ano. O pedetista reelegeu-se em 2012 com uma votação percentual um pouco superior à de Paes - 65,2% - e quase quatro vezes superior à da segunda colocada, Manuela D'Ávila (PCdoB). Agora, consegue transferir sua popularidade para Melo, que em menos de três semanas saiu de um quarto lugar, com 10%, para a liderança, com 22%, em situação de empate com o petista Raul Pont (19%), o tucano Nelson Marchezan Júnior e Luciana Genro (Psol), ambos com 17%.
Em Belo Horizonte, o prefeito Marcio Lacerda (PSB), reeleito com 52,7%, também escolheu o vice como sucessor, mas Délio Malheiros (PSD) permanece em terceiro lugar e vê os dois primeiros colocados se distanciarem: João Leite (PSDB) subiu de 26% para 30% e Alexandre Kalil (PHS) de 14% para 19%. A construção do nome governista foi tumultuado até o final. O PSB já havia escolhido em convenção o empresário Paulo Brant, mas o partido do prefeito desistiu da candidatura em favor do vice na última hora.
Em Goiânia, o petista Paulo Garcia, que chegou ao segundo mandato com 57,7% dos votos, apoia a deputada estadual Adriana Accorsi. A correligionária está em quarto lugar, com apenas 8%, apesar de ser a candidata da máquina e não usar o tradicional vermelho do PT. Numa tentativa de sobreviver à crise da legenda, a cor do material de campanha de Adriana é o roxo.
Além da desconfiança com partidos e indicações de caciques, outro fator que contribui para a escassez de "postes" é o próprio ciclo eleitoral, que neste ano traz 20 prefeitos em busca de reeleição. O governismo, no entanto, encontra muito mais terreno fértil nas regiões Nordeste e Norte do que nas Sul e Sudeste.
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