• Na meia centena de partidos no TSE há defesas de causas tradicionais e até a negação da política
Gilberto Amendola | O Estado de S. Paulo
A lista dos partidos em formação, disponível no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), parece uma combinação aleatória de letrinhas, fruto de um gerador automatizado de siglas. Em regra, o que vem depois do “P” (de partido) continua sendo aquelas mesmas variações de “democrata”, “cristão”, “trabalhista”, “social” ou “nacional”. Claro, vez ou outra, surge um nome diferente e sugestivo – algo como “Animais”, “Piratas”, “Puma” e “Manancial”. Também é possível encontrar partidos cujo público-alvo parece bem específico, como o PSPP (Partido do Servidor Público e Privado) ou o Inova Brasil, que se apresenta como a sigla do pequeno e microempresário.
Hoje, são 50 legendas ainda em processo de coleta de assinaturas. A família, a religião e a defesa do cidadão de bem estão no receituário da maioria delas. Ideologicamente, destaca-se um bloco que se autodenomina de centro-direita. No programa do Partido Conservador (Paco) é possível encontrar princípios como “a defesa da família e dos valores cristãos” – bem como a defesa “da vida desde a concepção até a morte natural”. Na mesma linha está o Manancial, partido que prega a “fé em Deus” e se descreve como defensor da “democracia liberal, da moral judaico-cristã e da liberdade individual”.
A palavra “cristão” ou “cristã” aparece em seis siglas: Partido Democrata Cristão (PDC); União da Democracia Cristã do Brasil (UDCdoB); Partido Liberal Cristão (PLC); Partido Progressista Cristão (PPC); Partido Ecológico Cristão (PEC) e Partido Republicano Cristão Brasileiro (PRCB).
Na página inicial do PPC, por exemplo, o presidente da sigla, Eurípedes Farias, promete: “Se eu for eleito para presidente da República pelo Partido Progressista Cristão implementarei os criatórios de frangos em todos os 5.570 municípios”. No site do partido, Farias também afirma que todos os dependentes químicos serão internados compulsoriamente em seu governo.
Jornadas. Outra característica que se espalha pelos novos partidos é o discurso do “não político” e do cidadão comum. O Movimento Cidadão Comum (MCC) é quem radicaliza esse conceito. O partido se declara “herdeiro institucional das Jornadas de Junho de 2013” e prega a participação de cidadãos fora do circuito político tradicional – até mesmo por meio da chamada democracia direta. Eles defendem, por exemplo, a criação de “governos paralelos” para acompanhar e se contrapor aos governos eleitos. No programa do partido consta a renúncia ao Fundo Partidário e ao financiamento empresarial.
Entre as siglas, vale destacar a Partido Alternativo dos Trabalhadores (PAT). Embora o nome faça uma clara referência ao PT, a legenda parece flertar com a centro-direita. Nada no PAT é vermelho. As cores do partido são o verde e o amarelo. Em sua página na internet, dirigentes do PAT posam ao lado de integrantes do PRB – e insinuam uma futura parceria. O estatuto do partido diz que a legenda traz “o fôlego para ser o apoio dos menos favorecidos, dos injustiçados, dos tímidos, daqueles que se encontram cansados e desamparados...”
Ao tentar se afastar dos embates entre direita e esquerda, os Patriotas formam uma legenda que se autodenomina “centralista, seguidores do caminho do meio e o bom senso”. Em uma linha parecida vai o Partido Brasileiro (PB). Embora não queiram ser enquadrados ideologicamente, o Facebook do PB ressalta que “a nossa bandeira jamais será vermelha”.
A questão da segurança pública também está na pauta dos partidos. O Força Brasil (FB), por exemplo, destaca em seu programa que é a favor que menores, a partir dos 11 anos, respondam por crimes como se fossem adultos. O Partido da Segurança Pública e Cidadania (PSPC) é outro que tem a segurança como ponto central de suas propostas – vários de seus filiados são policiais militares aposentados. Na mesma linha vai o Partido Militar Brasileiro (PMBR).
Talvez o partido que mais chame atenção na lista do TSE – principalmente depois que o PNC, Partido Nacional Corintiano, foi indeferido – é o Animais. Declaradamente “animalista”, afirma que terá como foco a defesa dos direitos dos animais. “Inclusive o nosso”, adianta o representante da sigla Alexandre Gorga. “Nós, humanos, também somos animais.”
UDNs e PDS. Na lista de partidos em formação no TSE é possível constatar um certo pendor saudosista, um desejo de retomar siglas que já tiveram alguma relevância no passado brasileiro e continuam a habitar a memória de eleitores.
Chama a atenção a tentativa de reviver legendas como UDN e Arena. A UDN foi criada em 1945 e extinta em 27 de outubro de 1965 (por meio do Ato Institucional Número 2). Na época, ser udenista era defender o liberalismo clássico, ser moralista e conservador. Quando a UDN foi dissolvida, a maioria de seus filiados encontrou guarida na Arena – partido que era a face de apoio civil ao golpe militar.
A tentativa de reavivar a Arena foi indeferida pelo TSE. Já a UDN tem dois filhotes em formação. Um deles é a União Democrática Nacional (UDN); a outra é a União Para a Defesa Nacional (UDN). A primeira tem uma página no Facebook pouco atualizada, mas que se descreve como “direita conservadora”; já a segunda UDN é mais ativa nas redes sociais e tem a meritocracia como base do seu discurso.
Mais uma tentativa vintage é a volta do PDS, um dos grandes redutos malufistas da década de 1980, agora como Partido da Defesa Social. O PDS do passado era o Partido Democrático Social.
Por fim, o Prona, do falecido dr. Enéas Carneiro, quer renascer para a vida pública. O partido, que ainda está no processo de coletar assinaturas, tem na imagem do antigo líder o seu maior trunfo. As bandeiras continuam as mesmas – principalmente em relação àquelas que tratam da soberania nacional.
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