Por Camilla Veras Mota e Robson Sales | Valor Econômico
SÃO PAULO E RIO - A taxa de desemprego manteve em dezembro a trajetória de alta observada no decorrer de todo o ano de 2016. Com queda forte no nível de emprego, que há cinco trimestres móveis consecutivos recua mais de 2% sobre igual intervalo do ano anterior, o mercado de trabalho ainda não dá sinais de que seu ciclo de ajuste tenha chegado ao fim. As projeções disponíveis indicam que o desemprego continuará crescendo até o fim do segundo trimestre, encerrando 2017 em nível ainda alto, acima de 12%.
No último trimestre do ano passado, a taxa chegou a 12%, vindo de 11,9% no trimestre até novembro e de 9% no mesmo período de 2015. Excluídos os efeitos sazonais, conforme o cálculo feitos por consultorias e instituições financeiras, o indicador da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua avançou de 12,6% para 13%.
"Não só a taxa não tem estabilizado, como continua piorando", afirma Thiago Xavier, da Tendências Consultoria. Mesmo com a expectativa de que o país volte a gerar novos empregos a partir do segundo semestre, os cortes esperados para esta primeira metade do ano levariam a ocupação a recuar 1%, ele diz, depois de encolher 1,9% em média em 2016.
Em paralelo, na medida em que a atividade der sinais mais concretos de recuperação, a procura por trabalho, hoje fraca, deve reaquecer. Quem hoje está fora do mercado de trabalho porque vê limitadas as chances de recolocação, avalia o economista, voltaria a tentar, expandindo a força de trabalho e pressionando o desemprego. A força de trabalho chegou a crescer apenas 0,8% e 0,6% em setembro e outubro, no confronto com iguais períodos de 2015, depois de avançar 1,8% em média no primeiro semestre.
Esse movimento, na opinião do economista Cosmo Donato, da LCA Consultores, já é visível nos indicadores do último trimestre de 2016, quando a força de trabalho cresceu 1,3% sobre igual período de 2015, o maior resultado desde julho do ano passado.
A oferta de mão de obra foi responsável por 1,2 ponto percentual do incremento da taxa de 9% para 12% entre o último trimestre de 2015 e o mesmo período de 2016. A contribuição mais expressiva, observa o economista, confirma a inversão da tendência observada desde meados do ano até outubro, quando a busca por novas vagas vinha pressionando cada vez menos o desemprego - configurando o chamado "efeito desalento". No cenário da LCA, a ocupação encolherá 1,1% neste ano, com alta de 1,45% da força de trabalho.
O professor emérito do Instituto de Economia da UFRJ João Saboia chama atenção para a redução forte do emprego com carteira assinada. Foram 1,4 milhão de vagas cortadas em 2016, número muito próximo do apurado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), 1,3 milhão. A proporção de postos formais no total de vagas do país chegou em dezembro a 37,7%, a menor parcela desde o início da série histórica da Pnad Contínua, em 2012.
Outra medida da precarização do mercado de trabalho em 2016 foi a queda, a partir setembro, do emprego por conta própria, que vinha absorvendo parte daqueles que perderam sua posição no mercado formal. "Quem ainda vem abrindo vagas é o setor informal, uma categoria que, com exceção do serviço doméstico, tem a menor renda média da Pnad", ele acrescenta. A ocupação no mercado informal encerrou o ano com estabilidade em relação a 2015, mas com tendência de alta entre setembro e dezembro.
"A janela de entrada para o mercado de trabalho foi a informalidade", afirmou o coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, destacando a comparação de curto prazo entre o terceiro e quarto trimestres de 2016, quando o emprego por conta própria subiu 1,3% e o sem carteira, 2,4%. Ainda nesse confronto, ele ressalta a geração de 559 mil postos no comércio, alta de 3,3%, superior inclusive ao incremento de 0,8% observado entre o terceiro e quarto trimestres de 2015.
É um resultado positivo, diz o pesquisador, mas é preciso esperar para ver "se isso vai se consolidar". O fim do ano, ele pondera, é marcado por contratações temporárias, que podem ou não ser efetivadas nos meses seguintes.
Para Saboia, da UFRJ, a perspectiva para o emprego em 2017, apesar da expectativa de retomada da economia, é ruim, já que o cenário é ainda de bastante incerteza. "As empresas precisam ter mais segurança até que voltem a contratar".
O aumento do desemprego que marcou 2016 vai se estender, pelo menos, até o fim do primeiro semestre de 2017, avalia Xavier, da Tendências. No cenário da instituição, a taxa deve passar dos atuais 12% para nível próximo de 14% entre abril e maio. A partir de então, ela começaria a ceder, chegando próximo de 12,5% em dezembro e fechando o ano na média de 13%. "O processo de ajuste continua", ele pontua. Em 2018, a taxa média cederia, mas, ante pressão maior da força de trabalho, seguiria em patamar alto.
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