• Com apoio da base e da oposição, senador do PMDB é defensor da agenda de reformas do governo Michel Temer, de quem se diz amigo
Ricardo Brito | O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Num contraponto à tensa disputa ao comando da Câmara, o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), deve se eleger nesta quarta-feira, 1.º, presidente da Casa pelos próximos dois anos. Aos 64 anos e senador de primeiro mandato, Eunício vinha costurando nas últimas semanas apoio de partidos da base aliada e da oposição, com a promessa de distribuição de cargos respeitando o tamanho das bancadas.
Empresário com a segunda maior fortuna declarada no Senado, R$ 99 milhões em 2014, o senador é defensor da agenda de reformas do presidente Michel Temer, de quem se diz “amigo” e “parceiro”.
Eunício, que também presidirá o Congresso e será o segundo na linha sucessória da Presidência, disse ao Estado que o Poder Legislativo deve debater com profundidade a reforma da Previdência e eventualmente rever a possibilidade, contida no texto, de que a aposentadoria integral só ocorrerá com 49 anos de contribuição. “Nada que entra aqui tem a obrigação de sair do jeito que chegou”, afirmou. Mas dá sinais de que trabalhará, se necessário, para garantir o calendário do governo de aprovar a reforma nas duas Casas Legislativas ainda no primeiro semestre. “Discussão rápida não quer dizer não discussão, não debate e não modificação.”
O peemedebista tem dito que, a despeito da pauta de Temer, vai defender uma agenda de desburocratização do País e que ajude a criara um ambiente propício para os negócios. Para ele, esse debate não pode ser exclusivo do Executivo.
Mesmo como cotado para suceder Renan Calheiros (PMDB-AL) desde a recondução dele, em fevereiro de 2015, Eunício só teve sua candidatura confirmada por aclamação da bancada do PMDB ontem, em encontro na residência oficial do Senado. Diferentemente do antecessor, que se envolveu em uma série de conflitos com o Judiciário, o peemedebista tem pregado o diálogo entre os Poderes e disse que pretende se reunir em breve com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia.
Lava Jato. O senador afirmou não ter “nenhuma preocupação” com a homologação da delação dos 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht. Ele foi citado pelo executivo Cláudio Mello Filho como recebedor de R$ 2,1 milhões em recursos para facilitar a aprovação de uma medida provisória de interesse da empreiteira. O peemedebista rechaça a acusação e até tirou um “nada consta” do Supremo para dizer que não é alvo de investigação. “(Não tenho) nenhuma (preocupação), sei o que fiz e sei o que não fiz, tenho absoluta convicção e quem acompanha o meu trabalho sabe o que fiz nesses 20 anos.”
Para Eunício, não há “absolutamente nenhum” constrangimento com a atual situação por que passa. Na reta final da campanha, contudo, um colega de bancada, Roberto Requião (PMDB-PR), passou a defender a divulgação do conteúdo das delações, medida que poderia prejudicar o correligionário, e tentava costurar no dia anterior à eleição, com o apoio do PT e do PCdoB, uma candidatura “alternativa” no PMDB, partido que tem a prerrogativa de indicar o candidato. Até a conclusão desta edição, não estava certo se Requião iria se lançar à disputa.
Crítico da falta de debate – até o momento o favorito não divulgou uma “plataforma de governo” –, Requião ao menos conseguiu a promessa de Eunício de encampar, caso eleito, sua pauta de reivindicações, entre elas uma maior participação dos senadores na distribuição de relatorias de projetos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário