- O Globo
Ontem foi divulgado o terceiro indicador positivo de abril. No mês que inicia o segundo trimestre subiram produção industrial, vendas do varejo e o volume de serviços. E isso foi depois de um PIB positivo do primeiro trimestre. O ministro Henrique Meirelles disse que em agosto o desemprego vai cair. A crise foi embora? Infelizmente, não foi. E esses indicadores — melhor tê-los — não significam tendência.
Há explicações pontuais para cada alta dos indicadores, mas em quase todos eles há queda quando se compara com o mesmo mês do ano anterior, assim como no acumulado do ano e em 12 meses. E o gráfico das séries longas mostra que a pequena alta de um mês pouca diferença faz na enorme queda que se acumulou nos dois anos e meio de recessão, como se pode ver no gráfico abaixo.
Quanto à declaração do ministro Henrique Meirelles, ele está apostando na sazonalidade. Normalmente, os números do desemprego sobem no primeiro semestre, estabilizam e depois caem no segundo. Mas se cair em agosto, ou ao longo do segundo semestre, não será uma mudança radical que indique o começo da recuperação do mercado de trabalho.
A dimensão do desemprego é catastrófica. No final do primeiro mandato da ex-presidente Dilma havia 6,4 milhões de desempregados. Quando ela deixou o governo eram 11,4 milhões, havia quase dobrado. Agora, são 14 milhões. Em dois anos e meio, 7,6 milhões de pessoas se juntaram ao exército de pessoas procurando emprego sem encontrar. Não há possibilidade de uma recuperação sustentável com esse quadro.
O gráfico mostra que está havendo uma certa estabilização dos indicadores. Eles reduzem o ritmo de queda e pontualmente estão parando de cair. Isso depois de oito ou onze meses de redução, dependendo da forma de calcular. Mas para retomar o crescimento seria preciso haver uma recuperação da confiança que levasse a um aumento do investimento. E mesmo no PIB do primeiro trimestre, que subiu, houve queda do investimento.
Claro que é melhor estar estabilizando, com pequenas melhoras na margem, do que a continuidade da queda livre que houve a partir do segundo semestre de 2014. Houve dois anos de encolhimento do produto em 3,5% a cada ano. Isso gera um enorme desconforto econômico, principalmente quando acompanhado da elevação rápida da inflação, que foi o que houve no curto segundo mandato da ex-presidente Dilma. Quando a inflação está subindo, com desemprego escalando e produção despencando, é o pior cenário econômico que se pode ter. Então neste aspecto o ambiente agora é bem melhor: a inflação ao cair melhora a renda, porque, como tem mostrado o IBGE, houve aumentos salariais de acordo com a inflação passada. Há fatores pontuais, como temos mostrado aqui, que levam a indicadores melhores. Não há garantia, contudo, que vai continuar melhorando.
Nos casos da indústria e dos serviços, houve alta de 0,6% e 1% em relação a março. Mas quando comparados com abril do ano passado, as quedas são de 4,5% e 5,6%. Em 2016 o país já estava no segundo ano em recessão. A queda é em relação a uma base que já é baixa. Já o comércio subiu, depois de 24 meses de queda.
Melhor ter bons indicadores, mesmo que sejam pontuais, do que não tê-los, mas a recuperação será mais lenta do que qualquer outro período de recessão de dimensão parecida com essa. Em 81-83 e em 90-92 as quedas foram menos intensas e a recuperação foi rápida. A crise política pode manter o país nessa gangorra dos índices, ou parado nesse patamar baixo.
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