- Folha de S. Paulo
Jorge Bastos Moreno era filho de um taxista cujo ponto ficava ao lado de uma banca de jornal em Cuiabá. À noite, o jornaleiro deixava que ele levasse um exemplar encalhado para casa. Foi assim que o futuro repórter descobriu o gosto e a vocação para a notícia.
Nos anos 70, Moreno se mudou para Brasília. Em pouco tempo, sua casa se tornou ponto de encontro de políticos e jornalistas. As conversas começavam depois das sessões do Congresso e invadiam a madrugada. Longe dos microfones, as autoridades afrouxavam o nó da gravata e revelavam segredos que depois seriam impressos em letra de forma.
O anfitrião sabia ser generoso. Servia jantares de primeira e fazia questão de convidar os "focas", como são chamados os repórteres iniciantes. Foi o meu caso quando cheguei à capital, aos 23 anos, e o de dezenas de jornalistas de sucessivas gerações.
Moreno era piadista, mas levava a notícia a sério. Em 1978, informou em primeira mão que o general Figueiredo seria o próximo presidente. Em 1992, publicou o cheque-fantasma que pagou o Fiat Elba de Fernando Collor. Em 1999, ganhou o Prêmio Esso ao antecipar a demissão de Gustavo Franco do Banco Central.
Com talento ímpar para contar histórias, era memória viva da redemocratização e da Nova República. Seu personagem favorito foi Ulysses Guimarães, de quem chegou a ser assessor na campanha de 1989.
O jornalista não vivia só de "furos". Sua coluna no jornal "O Globo" atraía o leitor pelo texto ácido e pelo tom debochado com que tratava os políticos. Nos últimos meses, ele também ocupou um espaço diário na coluna de Lydia Medeiros e comandou um programa na rádio CBN.
O jornalista trocou Brasília pelo Rio, mas continuou próximo da notícia. Em 2015, revelou a carta em que Michel Temer selou o rompimento com Dilma Rousseff. Nesta quarta, os presidentes Temer, Lula, FHC e Sarney lamentaram sua morte. Moreno partiu cedo, aos 63 anos.
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