- O Estado de S. Paulo
Enquanto planador de Temer faz piruetas, partidos só pensam na sua sucessão
Enquanto o planador de Temer faz piruetas para despistar o inexorável destino traçado pela gravidade dos fatos, todos os partidos só pensam na sua sucessão. E agem de acordo. Uns tentam filiar presidenciáveis, outros acirram a militância. Há ainda quem faça incontáveis reuniões nas quais decidir é proibido. Compartilham a mesma premissa e a mesma dúvida: o governo está caindo, só não sabem se e quando conseguirá aterrissar.
Os tucanos encasquetaram que manter o presidente no ar até 2018 lhes é favorável, embora, no recôndito do ninho, admitam que qualquer fato novo (desses quer surgem semana sim e outra também) é capaz de abreviar-lhe o voo. Ainda têm esperança em uma arremetida da economia no próximo ano. Afinal, o eleitor costuma levar em conta o que acontece com seu emprego e renda apenas nos meses imediatamente anteriores da ida à urna.
Mesmo que o improvável aconteça, o PSDB ainda corre o risco de um Henrique Meirelles (PSD) levar a fama e deitar na cama presidencial. Daí negociar o apoio do PMDB na sucessão de Temer, em troca de não apressar a queda do governo peemedebista. Seja qual for o desfecho, é um palpite de alto risco. Deixa ansiosos parlamentares tucanos que tentarão se reeleger usando o bordão da moralidade enquanto sustentam Temer e carregam Aécio.
Como de hábito, a aposta tucana é a antítese da petista. Em palanques, o PT pode pregar o “quanto antes, melhor” porque tem o “quanto pior, melhor” como backup. Os comícios por “diretas já” excitam os militantes, lhes dão uma palavra de ordem otimista, os mantêm combativos. Mas o “já” não é tão importante se a crença do partido é que cada dia do casamento com Temer desgasta o PSDB – que o PT ainda vê como o rival a bater.
A cena se ampliou, e novos atores estão brigando pelo espaço. A Rede assedia o ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa para integrar sua chapa presidencial. Como Eduardo Campos fez com Marina Silva em 2014, não deixa claro em qual posição. Talvez nem seja necessário. Pelo histórico recente, o vice tem mais chances que o titular: de cinco, três viraram presidentes.
Barbosa tem um potencial de voto maior do que pode parecer. No último Ibope disponível, de abril, 24% diziam que votariam nele com certeza para presidente, ou poderiam votar. É menos que os 33% de eleitores potenciais de Marina, mas o magistrado tem uma vantagem: só um terço do eleitorado diz que não votaria nele de jeito nenhum, contra a metade que rejeita a criadora da Rede. O desafio de Joaquim é tornar-se mais famoso: 42% o desconhecem.
A parceria com Marina pode ajudá-lo nessa tarefa. Apenas 1 em cada 4 dos eleitores que ignoram quem seja Joaquim Barbosa tampouco conhecem a ex-presidenciável. Os outros três quartos se dividem quase que meio a meio entre votar nela ou rejeitá-la. A eventual parceria com Marina tem chance de agregar alguns pontos porcentuais importantes ao potencial de voto de Barbosa.
Em abril, o ex-presidente do Supremo já apresentava melhores chances do que qualquer tucano cotado para suceder a Temer. Numa dobradinha com Marina, ele poderia rapidamente chegar a 30% de potencial de voto sem aumentar demais sua rejeição. Se equipararia à companheira de chapa, mas com menos eleitores que não votariam nele em um eventual segundo turno contra Lula.
O problema é a falta de tempo de propaganda na TV para um candidato tão desconhecido quanto Barbosa. Ele teria de compensá-la com uma campanha nas mídias sociais que alavancasse sua exposição na mídia tradicional, e vice-versa. Não é algo que se faça do dia para a noite. O magistrado defende diretas já, mas também ganharia mais com diretas daqui a pouco.
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