Entre os que procuram trabalho, apenas 12% têm nível superior
Lucianne Carneiro, O Globo
Do total de 14,2 milhões de desempregados no país, quase 70% têm entre 18 e 39 anos (67,1%, ou 9,529 milhões) e metade (49,7%, ou 7,058 milhões) têm ensino médio completo ou incompleto, segundo estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE. O maior contingente de desempregados está entre 25 e 39 anos, com 5,026 milhões (35,4% do total) e outros 4,503 milhões (31,7%) estão entre 18 e 24 anos.
— São trabalhadores menos experientes, com menos tempo no mercado de trabalho. Muitas vezes, como foram os últimos a entrar na empresa, são os primeiros a serem demitidos, já que o custo de demissão é menor. Cada vez vai ser mais difícil para esse profissional ganhar experiência. Mesmo quando a economia melhorar, é mais complicado porque o empregador terá que fazer treinamento — afirma a economista Maria Andreia Parente Lameiras, uma das responsáveis pelo estudo do Ipea.
Diante de uma economia em recessão, explica Maria Andreia, os trabalhadores nessa faixa intermediária de escolaridade do ensino médio acabam sofrendo mais, enquanto os que têm ensino superior — 12% do total de desempregados — sofrem menos:
— Os que têm menos escolaridade estão em um limbo. Quando a recessão está forte, está sobrando trabalhador. Muitos empregadores acabam contratando trabalhadores mais qualificados para vagas que poderiam ser ocupadas por quem fez o ensino médio. E este é um grupo que cresceu com as políticas de incentivo à educação nos últimos anos. Os que têm ensino superior passam melhor pela crise, pois há menos profissionais com essa qualificação no mercado.
Entre aqueles que passaram a procurar trabalho no primeiro trimestre, 50% têm idade entre 14 e 24 anos e cerca de 35% cursaram o ensino médio. Em geral, jovens voltam a buscar trabalho quando outros integrantes da família perdem o emprego e há queda na renda familiar.
Em dois anos, o país passou a ter 6,3 milhões a mais de desempregados: o número subiu de 7,9 milhões no primeiro trimestre de 2015 para 14,2 milhões no primeiro trimestre de 2017.
Diante de um mercado de trabalho tão deteriorado, avança o chamado desalento, que é quando trabalhadores desistem de procurar uma vaga porque buscaram por muito tempo e não tiveram sucesso. No primeiro trimestre de 2012, um quarto (23%) dos que não procuravam emprego, apesar de estarem disponíveis para o trabalho, diziam que era por acreditar que não teria êxito. No primeiro trimestre, essa parcela subiu para quase metade (47%).
— O desalento mede a percepção da população do mercado de trabalho. As pessoas desistem de procurar trabalho porque a economia está muito ruim ou porque acham que não têm a qualificação necessária — explica a economista.
MULHERES PERDERAM MENOS
Os dados do estudo mostram também que o ritmo de perda de vagas entre as mulheres têm sido menor que o dos homens. No primeiro trimestre deste ano, havia 38,321 milhões de trabalhadoras ocupadas, o que representa queda de 0,7% frente ao primeiro trimestre de 2016. No caso dos homens, a retração foi de 2%, para 50,626 milhões de trabalhadores.
— Muitas mulheres estão voltando ao mercado de trabalho por causa da recessão. Muitas acabam trabalhando por conta própria — diz Maria Andreia.
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