A associação com chineses para construir a refinaria prevista para o Comperj também é resultado da modernização da política de preços da estatal nos combustíveis
A Petrobras é um símbolo múltiplo. Resultado de uma campanha nacionalista na década de 50, já nasceu envolvida em paixões ideológicas. Na ditadura militar, foi dirigida por oficiais. Um deles, o general Ernesto Geisel, chegou à presidência da República, que, na prática, acumulou com a estatal.
Um dos incontáveis nacionalistas que passaram pela empresa, Geisel teve, porém, a clarividência de permitir, já no Planalto, que a empresa assinasse contratos de risco com grupos privados multinacionais, para explorar a plataforma continental do país, com a qual o Brasil multiplicaria a produção de petróleo e gás.
Isso foi essencial para a empresa firma-se como símbolo de eficiência e geradora de tecnologia. Notabilizou-se pela expertise em exploração em águas profundas. Já no ciclo lulopetista, foi à ruína devido aos delírios estatistas e à corrupção, deflagrada a partir do projeto de poder petista, cuja necessidade de financiamento levou ao mensalão e ao petrolão, para citar os esquemas mais conhecidos. Tornou-se símbolo de roubalheira.
Mas, com as mudanças feitas na administração de Pedro Parente, depois da saída de Dilma Rousseff do Planalto, a empresa entrou em um ciclo de forte recuperação. Em 2016, o valor da estatal em Bolsa, que desabara no lulopetismo, dobrou.
A associação com chineses para retomar parte do projeto do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), noticiado pelo GLOBO na semana passada, é um marco nesta fase. O plano é construir a refinaria prevista para o polo, que foi convertido em exemplo de mal planejamento, usado para facilitar a corrupção. Destaque-se que foram gastos no Comperj US$ 13 bilhões, sem um centavo de retorno até agora.
Com os chineses da CNPC — já participante do consórcio que atua no campo de Libra, no pré-sal —, deverão ser investidos entre US$ 3,5 bilhões e US$ 4 bilhões nesta refinaria, cuja estimativa inicial de produção era de 165 mil barris diários. O empreendimento deve criar dez mil empregos, na região de Itaboraí, município vizinho a Niterói, e transformado em terra arrasada pela suspensão do projeto do polo, causada por todos os desmandos conhecidos. Esta associação na área do refino não é fato isolado, nem poderia. Nenhum sócio se arriscaria se a Petrobras continuasse a fazer uma gestão nos preços de combustíveis desconectada do mercado.
O compromisso da estatal de permitir oscilações em função dos preços internacionais — como acontece nas economias desenvolvidas abertas para o mundo — é chave para atrair investidores como estes chineses.
Por esta nova política, crescem as importações de combustíveis por terceiros, numa concorrência benéfica para a Petrobras, interessada em vender pelo menos parte da BR Distribuidora, outra medida saudável. Dessa forma a estatal se candidata a ser símbolo de superação, depois de ter sido obrigada a registrar em balanço perdas de R$ 6,2 bilhões com a corrupção. Foi bem mais.
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