quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Bruno Boghossian: O dono da máquina

- Folha de S. Paulo

As negociações explícitas para definir o comando do Ministério do Trabalho desnudam mais uma vez o fisiologismo da política nacional, mas também dão uma pista do poder que Michel Temer pode exercer para influenciar o jogo eleitoral deste ano.

Ao decidir entregar o cargo à deputada Cristiane Brasil (RJ), o presidente fez um agrado mais do que óbvio ao cacique maior do PTB, Roberto Jefferson, pai da nova ministra.

O delator do mensalão manda no partido: lidera as articulações para que a bancada de deputados vote a favor da reforma da Previdência e, principalmente, negocia (e determina) alianças da sigla para as eleições.

Considerando o jogo político que se dará nas urnas, Temer escolheu o lado mais poderoso no embate discreto que era travado entre Jefferson e o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), pela indicação da chefia do ministério.

O partido já comandava a pasta, mas a escolha da nova ministra é um prêmio e tanto às vésperas de uma campanha que será marcada pela escassez de financiamento.

O Ministério do Trabalho tem um orçamento modesto, mas o espaço é cobiçado por políticos que sabem tirar proveito de sua estrutura.

A pasta tem poder de autorizar a abertura de sindicatos e distribuir cargos pelo país. Essa capilaridade tende a ser útil na hora de pedir votos para os candidatos da sigla que comanda o ministério. Jefferson e seu grupo devem estar gratos a Temer.

Considerado tóxico por chefes dos partidos aliados, o presidente corre o risco de ficar isolado nas articulações de sua própria sucessão, mas é prematuro menosprezar seu poder.

Até abril, outros 13 ministros deixarão seus cargos para entrar em campanha. Temer terá a caneta na mão para oferecer a outros seis partidos a indicação de seus substitutos. A gratidão será cobrada quando o presidente precisar negociar o apoio dessas siglas a um candidato que defenda seu legado nas urnas.

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