- Folha de S. Paulo
Não faltam sistemas mais sofisticados, cada qual com seu mix de pontos positivos e negativos
Escrevi alguns dias atrás uma coluna mostrando que existem sistemas de votação que tornam menos prováveis situações de forte polarização como a que vivemos agora. À guisa de exemplo, citei a contagem de Borda, em que o eleitor ranqueia os candidatos por ordem de preferência. Ato contínuo, alguns leitores me escreveram, recriminando-me por ter escolhido um exemplo ruim. Há coisa melhor no mercado, asseguraram-me.
O sistema de Borda, em que pese eliminar alguns problemas do voto uninominal, é muito vulnerável às manipulações da escolha estratégica. O eleitor fatalmente coloca seu candidato favorito em primeiro lugar, dando-lhe a pontuação máxima, e reserva a última posição para o rival com maior chance de vencer, atribuindo-lhe o escore mínimo.
Com isso, candidatos muitas vezes inexpressivos (pense num Eymael) ficam em posições intermediárias —e pontuam bem— porque não são vistos como ameaça. Não é impossível que um deles triunfe, embora não reflita a preferência real de quase ninguém. Alertado para esses problemas, o matemático Jean-Charles de Borda (1733-1799) proclamou “meu sistema é para homens honestos”.
Alternativas mais condizentes com a moralidade média da humanidade são os sistemas cardinais. O mais simples é a votação por aprovação. Nela, o eleitor vota em todos os candidatos que aprovar —isso reduz bem o incentivo a escolhas estratégicas—e contam-se os sufrágios. Depois, para imprimir a marca da preferência popular (não só o não veto), pode-se submeter os dois mais votados a um segundo turno convencional.
Sistemas mais sofisticados de votação, cada qual com seu mix de pontos positivos e negativos, é o que não falta. Vários estão sendo testados em eleições reais ao redor do mundo. É algo em que vale a pena ficarmos de olho. A democracia, sejam os homens honestos ou não, é a melhor maneira que já encontramos para nos autogovernar.
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