- Folha de S. Paulo
Bolsonaristas batem cabeça sobre Previdência, mas pode ser só estratégia eleitoral
Alheio ao mau agouro do anedotário político sobre sentar-se na cadeira antes do resultado das urnas, Jair Bolsonaro escala intrepidamente a rampa do Palácio do Planalto ao anunciar três ministros estratégicos de seu governo virtual. O economista Paulo Guedes(Fazenda/Planejamento), o deputado Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e o general da reserva Augusto Heleno (Defesa). Outros seis nomes já aparecem como favoritos para compor o ministério enxuto do candidato do PSL, que deverá ter 15 pastas.
Assim como as indicações precoces —a duas semanas do segundo turno das eleições—, surgem divergências prematuras e nada triviais sobre o rumo de projetos do eventual novo governo. A reforma da Previdência é o melhor exemplo da bateção de cabeça instalada nas trincheiras do capitão reformado.
Guedes insiste em aproveitar a proposta de Michel Temer, que dormita no Congresso desde o final de 2016, votando-a já neste ano. Seria um primeiro passo dentro do plano de fatiar as mudanças nas regras de aposentadoria, com vistas a um regime de capitalização.
O roteiro já foi desautorizado pela Casa Civil de Lorenzoni, que esculacha o texto-legado do emedebista. Bolsonaro também desmerece a reforma de Temer. Quer uma discussão mais devagar e consensual sobre o tema e diz ser prioridade acabar com privilégios do funcionalismo.
Em 2019, se eleito, o governo bolsonarista amargará um déficit previdenciário de R$ 218 bilhões, e as despesas com benefícios do INSS atingirão 45% do gasto total. Nenhuma reforma terá o condão de reverter o gigantismo das cifras de imediato, mas a demora na aprovação ou a opção por regras muito gradualistas pouco contribuirá para conter a escalada explosiva da dívida pública.
É cedo para saber se, de fato, Guedes perdeu o embate. Até o dia 28, o artifício dúbio do morde e assopra parece um meio eficaz de, simultaneamente, garantir votos e evitar acusações futuras de estelionato eleitoral.
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