- Folha de S. Paulo
Presidente terá de aprovar emendas constitucionais impopulares para ter sucesso
Não temos, é óbvio, uma resposta definitiva à pergunta do título, mas isso não nos impede de especular um pouco.
Cenários distópicos, que incluiriam a volta da ditadura, não podem ser descartados, mas também não me parecem uma aposta razoável. Até prova em contrário, Bolsonaro governará pelo Livrinho e submetido a controles institucionais.
Há potencial para o que progressistas chamaríamos de retrocessos em várias áreas. Destacaria o meio ambiente, a segurança pública e pautas da agenda cultural. Mas democracia tem dessas coisas. Desde que direitos e garantias fundamentais não sejam desrespeitados, perder faz parte do jogo.
A área mais crítica é a economia. Bolsonaro até que assume sob condições favoráveis. Os ventos internacionais sopram a favor, e o presidente eleito, embora não tenha detalhado suas propostas na campanha, tem mandato para implementar reformas necessárias. O tal de mercado parece confiar nas credenciais liberais de Paulo Guedes, ainda que ele possa ser descrito como uma personalidade difícil, que pode se desentender com qualquer um a qualquer momento.
Se o próximo governo conseguir avançar nessa seara, em especial se lograr modificar o sistema previdenciário, poderemos ver alguma retomada dos investimentos, maior folga orçamentária e a entrada do país num ciclo econômico positivo.
O problema é o “se conseguir”. Aprovar emendas constitucionais impopulares não é trivial. Exige grande capacidade de convencimento e negociação e não sei se Bolsonaro as tem. É possível que a tarefa esteja acima de seu nível de competência. É verdade que ele venceu um pleito disputado, mas seu histórico mais amplo não é muito promissor. No Exército, nunca passou de capitão; na Câmara, nunca se mostrou mais do que um típico representante do baixo clero. Às vezes é o cargo que eleva a pessoa. Vamos torcer para que seja o caso.
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