O Produto Interno Bruto do terceiro trimestre confirmou a expectativa de que uma possível reação um pouco mais vigorosa só deverá vir em 2019. O PIB cresceu 0,8% na comparação com o segundo trimestre, após o ajuste sazonal. Em relação ao terceiro trimestre de 2017, o crescimento foi de 1,3%; e, no acumulado nos quatro trimestres, o PIB subiu 1,4%, que é a taxa prevista para o fechamento do ano, pouco acima do 1,1% de 2017.
A greve dos caminhoneiros e o atraso no ajuste fiscal, além da tensão eleitoral, frearam o avanço da economia. Nos diversos setores, predominou a cautela. Do lado da oferta, a agropecuária registrou crescimento de 0,7% de julho a setembro, na comparação com o trimestre anterior; a indústria teve variação positiva de 0,4%; e os serviços, de 0,5%. Do lado das despesas, a formação bruta de capital fixo, que reflete os investimentos, surpreendeu, com um salto de 6,6%, explicado em boa parte por uma mudança no Repetro, regime fiscal aduaneiro aplicado a equipamentos para o setor de petróleo, que alterou a contabilidade das plataformas usadas na exploração do óleo. Sem esse efeito, o aumento teria sido de 2,7%. Da mesma forma, a taxa de investimento na economia teria sido de 16,1%, e não de 16,9% como o registrado no período analisado. Os números podem ser expressivos, mas a perda acumulada desde 2014 fica ao redor de 30%. O consumo das famílias cresceu 0,6%; e o do governo, apenas 0,3%.
Após a recessão que durou do segundo semestre de 2014 ao fim de 2016, foi o sétimo trimestre consecutivo de crescimento do PIB, a partir do início de 2017. Ainda assim, o PIB cresceu apenas 3,3% nesse espaço de tempo e a economia está 5% abaixo do pico registrado no primeiro trimestre de 2014. Calcula-se que, nesse ritmo, ela só vai recuperar o patamar anterior à crise em 2021.
Nem todos segmentos caminham no mesmo ritmo. O consumo das famílias, que representa 60% do PIB do lado da demanda, cresce há sete trimestres, acumula expansão de 4,2%, acima do próprio PIB, alavancado principalmente pela liberação de recursos do PIS/Pasep, e em menor proporção pela ligeira melhoria do emprego, pela oferta de crédito, pelo recuo dos juros e da inflação baixa. Do lado da oferta, o setor de serviços, que representa 73% do PIB e foi um dos últimos a refletir o impacto da crise, só foi reagir no fim do primeiro semestre, com variação de 1,5% em 12 meses.
Na indústria, o segmento de transformação (57% do total), com crescimento de 3,1% em 12 meses, tem sido importante propulsor da média de 1,3% no mesmo período, com destaque para a produção de automóveis, máquinas e equipamentos, celulose e papel, produtos farmacêuticos, derivados de petróleo e biocombustíveis. No campo oposto, está a construção civil, que cresceu 0,7% no terceiro trimestre em comparação com o trimestre anterior, mas acumula queda de 2,5% em 12 meses. Para alguns economistas, a letargia da construção é o principal motivo para a lentidão da recuperação da economia desde o fim da recessão. Relatório da LCA observa que cerca de um terço dos 3 milhões de empregos com carteira assinada perdidos entre 2014 e 2016 estavam alocados no setor de construção.
Todos os dados confirmam uma saída lenta da recessão, em ritmo bem mais vagaroso do que em outras situações semelhantes. A expectativa é que o quadro melhore no próximo governo. Vários elementos são favoráveis: inflação baixa, a perspectiva de que os juros seguirão no patamar atual, a melhora da confiança das famílias e dos empresários e a tendência de recuperação do mercado de trabalho. Espera-se ainda que o novo governo adote medidas para melhorar a atividade econômica, como o encaminhamento da reforma da Previdência e privatizações, com efeito positivo na dívida pública.
A pesquisa Focus divulgada ontem revela a expectativa do mercado financeiro de crescimento de 2,53% no próximo ano. Se a reforma da Previdência sair do papel, alguns bancos preveem crescimento até superior a 3%. O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, fala em 3,5%. Surgiram, no entanto, alguns sinais de cautela na frente internacional por conta da desaceleração da economia global, como já alertou o Fundo Monetário Internacional (FMI), que podem ter impacto no comércio exterior e nos investimentos estrangeiros. Resta saber se a sinalização do banco central americano de manter os juros no patamar atual por mais algum tempo e se a trégua na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China vão desanuviar o cenário externo.
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